A fotografia encontra-se implicada no turismo com as modificações do tempo e do espaço na modernidade, ganhando fluxo na vida social por meio de rituais e modos de ação diversificados na experiência da viagem.
Fotografia e turismo atravessam o século XX forjando operações que comportam, entre outros aspectos, a invenção dos lugares, a ocupação do tempo, o acúmulo dos clichês e a roteirização de uma memória. No final desse período, as concepções acerca da fotografia começam a ser revistas em um contexto no qual o mundo aparenta ter sido por ela varrido.
“A onipresença das fotos produz um efeito incalculável em nossa sensibilidade ética. Ao munir este mundo, já abarrotado, de uma duplicata de mundo feita pelas imagens, a fotografia nos faz sentir que o mundo é mais acessível do que é na realidade”, escreve Susan Sontag em Sobre fotografia.
No livro, a crítica norte-americana trata, em parte, da relação entre a fotografia e o turismo, sinalizando as implicações de transformar o vivido durante a viagem em registro obsessivo de imagens e o quanto elas funcionam aparentemente como prova do programa cumprido: “A necessidade de confirmar a realidade e de realçar a experiência por meio de fotos é um consumismo estético em que todos, hoje, são viciados.
Ter uma experiência se torna idêntico a tirar dela uma foto, e participar de um evento público tende, cada vez mais, a equivaler a olhar para ele, em forma fotografada”.
Segundo a autora, a experiência da viagem passa a equivaler-se à imagem naquilo que nomeia como um “evento”, ou seja, algo que merece atenção e, portanto, acontece em uma fotografia.
Assim, considera que, no campo do turismo, tudo existe para terminar em uma foto, e fotografar se torna tão importante quanto estar lá – um modo de viajar que pressupõe a presença de um sujeito seduzido por lugares, pessoas e objetos. É dessa maneira que o turista começa a conferir caráter de acontecimento ao enunciado de um “mundo-imagem” – expressão cunhada por Sontag –, no qual a fotografia é a promessa da imortalidade daquela experiência.
A partir da modernidade, fotografar uma viagem transforma-se em um ritual que envolve modos de ação, gestos e circunstâncias que criam um discurso por meio da imagem.
Picture Ahead: A Kodak E A Construção Do Turista-Fotógrafo
- Fotografia, Turismo
- 11 Visualizações
- Nenhum Comentário
Link Quebrado?
Caso o link não esteja funcionando comente abaixo e tentaremos localizar um novo link para este livro.