A Resistência

Lá pela metade do romance A resistência, o narrador está à procura do apartamento onde os pais moraram, em Buenos Aires, ainda nos anos 70. Chega diante de dois edifícios na esquina das ruas Junín e Peña, toca um dos interfones e explica ao porteiro que não veio visitar ninguém

, que só quer fazer umas perguntas sobre um casal que ali viveu décadas atrás com o filho pequeno. E que dali os três tiveram de fugir às pressas, perseguidos pela ditadura argentina.
O porteiro acha estranho e pergunta: Pero usted no sabe sus nombres? Sim, eu sei, “eles são meus pais, o bebê é meu irmão, eu sei onde estão, eles não desapareceram”, responde o narrador. “Só queria conhecer o apartamento onde viveram porque estou escrevendo um livro a respeito… Um livro sobre essa criança, meu irmão, sobre dores e vivências de infância, mas também sobre perseguição e resistência, sobre terror, tortura e desaparecimentos”.
Essa é uma das tantas vezes em que o narrador tenta explicar aos outros — e talvez a si mesmo — o que é esse livro que está escrevendo.
Depois de publicado o romance, foram e ainda serão muitas as vezes em que jornalistas e críticos literários tentaram e ainda tentarão explicar o livro que Julián Fuks escreveu.
E será possível dizer muitas coisas sobre A resistência. Que foi passo decisivo da carreira de um jovem romancista. Que com rara lucidez e sensibilidade tocou em temas como adoção, família, exílio, engajamento, memória pessoal e história nacional. Que o romance e seu autor foram voz marcante numa época turbulenta da política no Brasil.
Mas dizer todas essas coisas não parece suficiente. Porque em A resistência há algo que sempre escapa a definições. Sem saber se cala ou confessa, se lembra ou inventa, se é mesmo possível contar sua história, a história de seu irmão e de seus pais e dos países nos quais viveram e, de inúmeras maneiras, resistiram, Julián Fuks faz uma bela reflexão sobre a própria literatura.
De alguma forma, sabe que a ficção já não será suficiente para dizer tudo o que é possível — e necessário — dizer sobre essas vidas todas. Por mais cuidadosas que sejam, sabe que nenhuma de suas palavras fará jus ao irmão. Mas, ainda assim, escreve. Porque escrever é resistir a tantas impossibilidades.

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Lá pela metade do romance A resistência, o narrador está à procura do apartamento onde os pais moraram, em Buenos Aires, ainda nos anos 70. Chega diante de dois edifícios na esquina das ruas Junín e Peña, toca um dos interfones e explica ao porteiro que não veio visitar ninguém, que só quer fazer umas perguntas sobre um casal que ali viveu décadas atrás com o filho pequeno. E que dali os três tiveram de fugir às pressas, perseguidos pela ditadura argentina.
O porteiro acha estranho e pergunta: Pero usted no sabe sus nombres? Sim, eu sei, “eles são meus pais, o bebê é meu irmão, eu sei onde estão, eles não desapareceram”, responde o narrador. “Só queria conhecer o apartamento onde viveram porque estou escrevendo um livro a respeito… Um livro sobre essa criança, meu irmão, sobre dores e vivências de infância, mas também sobre perseguição e resistência, sobre terror, tortura e desaparecimentos”.
Essa é uma das tantas vezes em que o narrador tenta explicar aos outros — e talvez a si mesmo — o que é esse livro que está escrevendo.
Depois de publicado o romance, foram e ainda serão muitas as vezes em que jornalistas e críticos literários tentaram e ainda tentarão explicar o livro que Julián Fuks escreveu.
E será possível dizer muitas coisas sobre A resistência. Que foi passo decisivo da carreira de um jovem romancista. Que com rara lucidez e sensibilidade tocou em temas como adoção, família, exílio, engajamento, memória pessoal e história nacional. Que o romance e seu autor foram voz marcante numa época turbulenta da política no Brasil.
Mas dizer todas essas coisas não parece suficiente. Porque em A resistência há algo que sempre escapa a definições. Sem saber se cala ou confessa, se lembra ou inventa, se é mesmo possível contar sua história, a história de seu irmão e de seus pais e dos países nos quais viveram e, de inúmeras maneiras, resistiram, Julián Fuks faz uma bela reflexão sobre a própria literatura.
De alguma forma, sabe que a ficção já não será suficiente para dizer tudo o que é possível — e necessário — dizer sobre essas vidas todas. Por mais cuidadosas que sejam, sabe que nenhuma de suas palavras fará jus ao irmão. Mas, ainda assim, escreve. Porque escrever é resistir a tantas impossibilidades.

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