
O presente livro é o resultado parcial de estudos e discussões acerca da atual recomposição capitalista e do decorrente surgimento de novos Movimentos Sociais Revolucionários (MSR) de contestação da ordem na América Latina, especialmente os de tática guerrilheira – o que faz com que aqui privilegiemos o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN).
De forma mais geral, detém-se no exame do processo de transnacionalização capitalista e na inserção da América Latina nesse contexto, o que tem provocado, concomitantemente, discursos contrahegemônicos por parte de alguns de seus agentes políticos. Nesse enfoque, o objeto central de reflexão é o EZLN em sua trajetória, sua base social indigenocamponesa, seu processo de construção ideológica, seu construir/desconstruir contínuo na incansável e dinâmica busca de constituição de suas matrizes num discurso capaz de tramar contra as premissas neoliberais dominantes.
A escolha do tema está vinculada à necessidade de aprofundamento da discussão acerca das condições sociopolíticas e econômicas de espoliação capitalista nessa “nova ordem”. Argui-se aqui que o ressurgimento do fenômeno da luta armada como manifestação política na América Latina, na conjuntura de implementação das políticas neoliberais nas sociedades periféricas do capitalismo mundial, põe a nu as assimetrias socioeconômicas perpetuadas pelo processo histórico de acumulação capitalista a que está submetida a classe trabalhadora internacional, em especial o segmento indígena-camponês.
Arrazoa-se também que as lutas sociais que ressurgem – e se insurgem – em suas mais diversas formas negam o fim da história tal qual abertamente proclamava Fukuyama e apontam para alternativas fora do modelo hegemônico.
Fruto do último quartel do século que se findou, a ação coletiva ezelenista representa não uma abstração, mas o ato político concreto de um movimento social historicamente localizado (temporal, geográfica e culturalmente), marcado pela resistência de setores subalternos do capitalismo – atualmente em fase de hegemonia financeira, coadjuvada pela ideologia neoliberal –, num quadro que exige de quem ousa compreendê-lo especial atenção às condições objetivas dos agentes indígenas e camponeses no conjunto da sociedade mexicana e desta no seio do capitalismo mundial.











