Práticas De Escuta Do Rock

A música é, talvez, dos produtos poéticos humanos, o mais presente no cotidiano. Ouvimos música o tempo todo: na espera do atendimento telefônico, na sonoridade dos anúncios da rua, no rádio, na tevê, no cinema, no elevador, ao fazer caminhadas ou outra atividade física, ao despertar, algumas vezes sem conseguir dormir.

Uma biografia é também uma escrita musical, pois, afinal, toda vida e todos os momentos importantes que a marcam têm uma trilha sonora. Às vezes, e isso não é tão raro assim, ouvimos o silêncio como uma espécie de música – incômoda, delicada, sutil, enervante ou saborosa, mas ao mesmo tempo presente e inevitável. Por isso, causa estranheza o quanto a música é algo ainda pouco estudado, pouco conhecido. Apesar dos séculos de sua história, muito do que efetivamente constitui sua experiência, ou seja, sua presença e inserção na vida das pessoas, ainda é algo envolto num certo mistério. Seja esse mistério associado a uma mística da arte, num extremo, ou relegado à banalidade de um fazer ordinário, num outro, a experiência musical costuma receber qualificações que, verifica-se, vinculam-se a conceitos e preconceitos que a precedem, que parecem querer saber dela antes mesmo que se realize.
O trabalho de Jorge Cardoso Filho, que constitui este livro, vai, nesse sentido, ao mesmo tempo enfrentar esse mistério e fugir dessas rotulações pouco esclarecedoras. Não é certamente uma tarefa fácil. Pensar, tentar apreender a música como experiência, implica se afastar de visões que afirmam, de modo elitista, a arte como incomunicável – sem que problematize, com frequência, o que se entende como comunicação e até mesmo como arte. Envolve o desafio de respeitar a complexidade do fenômeno, nas suas diversas dimensões, mas em especial uma particularmente difícil: a tessitura musical. Na sua forma mais popular, a canção, a música não se resume a uma organização de sons, mas resulta de uma articulação sofisticada de, entre outros, palavra, corpo e voz, em suas materialidades, tonalidades, formas e combinações. Além disso, sendo uma obra do espírito, a música é também um produto comercial, um produto conformado e embalado através de processos econômicos, por formatos e tecnologias. A tudo isso, juntam-se ainda as formas de sociabilidade e os rituais nas quais a música se faz presente na vida de cada um. A canção popular massiva, face mais visível e cotidiana da música nas nossas sociedades, é impensável fora dessas relações.

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A música é, talvez, dos produtos poéticos humanos, o mais presente no cotidiano. Ouvimos música o tempo todo: na espera do atendimento telefônico, na sonoridade dos anúncios da rua, no rádio, na tevê, no cinema, no elevador, ao fazer caminhadas ou outra atividade física, ao despertar, algumas vezes sem conseguir dormir. Uma biografia é também uma escrita musical, pois, afinal, toda vida e todos os momentos importantes que a marcam têm uma trilha sonora. Às vezes, e isso não é tão raro assim, ouvimos o silêncio como uma espécie de música – incômoda, delicada, sutil, enervante ou saborosa, mas ao mesmo tempo presente e inevitável. Por isso, causa estranheza o quanto a música é algo ainda pouco estudado, pouco conhecido. Apesar dos séculos de sua história, muito do que efetivamente constitui sua experiência, ou seja, sua presença e inserção na vida das pessoas, ainda é algo envolto num certo mistério. Seja esse mistério associado a uma mística da arte, num extremo, ou relegado à banalidade de um fazer ordinário, num outro, a experiência musical costuma receber qualificações que, verifica-se, vinculam-se a conceitos e preconceitos que a precedem, que parecem querer saber dela antes mesmo que se realize.
O trabalho de Jorge Cardoso Filho, que constitui este livro, vai, nesse sentido, ao mesmo tempo enfrentar esse mistério e fugir dessas rotulações pouco esclarecedoras. Não é certamente uma tarefa fácil. Pensar, tentar apreender a música como experiência, implica se afastar de visões que afirmam, de modo elitista, a arte como incomunicável – sem que problematize, com frequência, o que se entende como comunicação e até mesmo como arte. Envolve o desafio de respeitar a complexidade do fenômeno, nas suas diversas dimensões, mas em especial uma particularmente difícil: a tessitura musical. Na sua forma mais popular, a canção, a música não se resume a uma organização de sons, mas resulta de uma articulação sofisticada de, entre outros, palavra, corpo e voz, em suas materialidades, tonalidades, formas e combinações. Além disso, sendo uma obra do espírito, a música é também um produto comercial, um produto conformado e embalado através de processos econômicos, por formatos e tecnologias. A tudo isso, juntam-se ainda as formas de sociabilidade e os rituais nas quais a música se faz presente na vida de cada um. A canção popular massiva, face mais visível e cotidiana da música nas nossas sociedades, é impensável fora dessas relações.

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