
O grande cordelista baiano Minelvino Francisco e toda autenticidade de sua obra são aqui analisados pelo autor Jorge Araujo. No livro, o leitor/ouvinte se depara com a espontaneidade poética expressa através das diferentes temáticas que os cordéis e xilogravuras apresentam.
As histórias de Minelvino, herança e fruto remanescentes da utópica voltagem do imaginário ibérico, são revestidas da fragrância de uma poesia genuína, devolvida à comunidade popular como relatos de orago, ou intérprete mimético das expectativas gregárias de sobrevivência anímica.
Por isso, de par com a verossimilhança de sua memória do real, a poesia de Minelvino desempenha a singularidade da sabedoria popular empreendida com a liberalização do simples e o espontâneo da fabulação estética.
Minelvino anuncia as coisas do final e do começo do mundo, mantendo incólume um inspirado universo de belezas insuspeitadas.
Seus folhetos enunciam uma seriação de histórias de inquestionável apelo popular, sintonizado com o que acontece no real da contemporaneidade do autor.
Tal condicionamento do simples e espontâneo ajustados à empatia imediata da aceitação e fiel observância do código não significa a eliminação restritiva de contatos com o ambiente acadêmico.
O que encanta e sobreleva na produção literária de Minelvino Francisco Silva é justamente essa expressão legítima da cultura popular, feita de forma artesanal desde a composição manual (Minelvino utilizava a forma primitiva das tipografias, do componedor aos tipos e à máquina de impressão não-mecanizada) à criação da xilogravura para as capas dos folhetos, indo até ao formato de divulgação via monofone preso ao pescoço, num serviço de alto-falante emblematicamente designado como “A Voz da Poesia”.
O acervo de obras de Minelvino Francisco Silva é constituído de folhetos espelhados na prática convencional entre os demais cordelistas.
Boa parte deles pertence a temas religiosos (católico praticante, Minelvino era devoto e obreiro do Bom Jesus da Lapa e de outras referências da hagiografia de influência devocionária portuguesa, caso de Nossa Senhora das Graças, São Francisco, Santo Antônio e outros), entremeados com o repertório de desafios entre cantadores, narrativas épicas de varões e princesas, herois e heroínas típicos do manancial do conto maravilhoso, histórias de fenômenos e exemplos morais, relatos inspirados na realidade social e política etc.
