
Vencedor do prêmio Sosígenes Costa de Poesia 2016, o livro Memórias Fósseis traz mistério, ritmo e rito de linguagem. Há também lirismo e fantasia, arroubo de juventude e encantamento, leveza e metáforas. O livro é um convite ao leitor para conhecer as memórias de um arqueólogo da palavra.
Em Memórias Fósseis Weslley Almeida escava sentidos ocultos pelo tempo:
os fatos, as imagens, ideias e vivências de sua vida. Ele assume o discurso como intérprete das revelações e das descobertas acumuladas desde a infância, fazendo uma releitura daquelas marcas indeléveis que permanecem como traços da personalidade do ser adulto.
O poeta revê sua trajetória, ainda tão recente, para rememorar, reler os
afetos, sentir de novo as experiências vividas, através da poesia do presente. São atos de vontade, achados criativos e invenções de linguagem.
Ele afirma que o poeta é um quixote das palavras, ou seja, um artífice de sonhos e ilusões, em luta constante com os moinhos de significados.
Weslley Almeida é um poeta jovem, em processo de formação e em diálogo com a poesia que o encanta e lhe aponta os caminhos, de onde as palavras brotam e se enramam na sensibilidade e na imaginação.
Para colher as motivações que medram por toda parte, o poeta se mantém atento ao mundo, com os “órgãos dos sentidos excitados” e “as cores pulando aos seus olhos”.
Essa imagem inicial plasmada nos versos do poema “Sinestésico” demonstra a sua proposta de criação, como um intérprete de cores, sons, olores, sabores, imagens que compõem o arco-íris de suas sensações.
O poeta Sosígenes Costa (1902- 1968), patrono do prêmio atribuído a este livro, certamente aprovaria o trabalho de criação do jovem autor. O esteta belmontense e ilheense escrevia poemas como quem pintava paisagens, esculpindo aquarelas nos versos e nas rimas, com uma plasticidade rara e admirável.
Descrevia crepúsculos e pavões líricos através de rimas preciosas, a partir dos sons, das cores e das formas que seus olhos colhiam nas paisagens de Belmonte e de Ilhéus, cenários imantados no seio da Mata Atlântica, à beira dos rios e dos mares grapiúnas.
Em sua obra a poesia é puro alumbramento, como se observa no admirável
“O primeiro soneto pavônico”:
Maravilhado assisto das janelas.
Os coqueiros, pavões de um rei
fictício,
Abrem as caudas verdes e amarelas,
Ante da tarde o rútilo suplício.
