No Calor Da Guerra Fria

Em 1991, no prefácio de Costumes em comum, E. P. Thompson comentava o retorno a pesquisas adiadas desde a publicação de Albion’s Fatal Tree e Senhores & Caçadores, em inícios da década de 1970. O motivo principal dessa retomada foi a emergência da Segunda Guerra Fria

, que teve seu ápice com a decisão da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) de modernizar seus arsenais atômicos, com a alocação de silos de mísseis em solo britânico (o que equivalia a transformar a ilha em alvo certo); logo em seguida, a intervenção soviética no Afeganistão; o acirramento da política de dissuasão (aliás, a teoria de que armamentos cada vez mais poderosos deteriam ataques inimigos indicaria uma situação em que a política quedava supérflua); em março de 1983, a divulgação por Reagan dos planos da Iniciativa de Defesa Estratégica (Guerra nas Estrelas), consistindo na criação de um domo antinuclear sobre o território americano; o anticomunismo como projeção de um Outro ameaçador; os crimes contra os direitos humanos e as perseguições internas na URSS; as articulações entre saberes e poderes que intensificavam gastos com o complexo militar, burocrático, acadêmico e industrial; o risco mesmo de o planeta ser destruído... Mais premente do que escrever histórias era viver a história.
Meios de comunicação de massas tornaram familiares, na década de 1980, os espectros de líderes governamentais e conselheiros militares. Ronald Reagan, Yuri Andropov, Mikhail Gorbachev, Margaret Thatcher, os secretários de defesa Caspar Weinberger, Mikhail Suslov, Dmitri Ustinov, Michael Heseltine, John Nott, Francis Pym, Geoffrey Howe... dançarinos pesados, bailarinos capatazes, heavy dancers, como os chamou E. P. Thompson (1924–1993). A militância antinuclear do historiador britânico reverbera pontos significativos de sua obra. De alguns métodos dessa área do conhecimento, vinham a desconfiança em relação às versões oficiais e a atenção para uma história vista desde baixo (from below), a indicar não só as camadas operárias, mas o que se chamava de “gente comum”. Ainda que Thompson admitisse (ou por isso mesmo) que planos e ações poderiam redundar em consequências inesperadas ou que o presente não seria o resultado lógico e necessário de eventos passados, teoricamente, sustentou que os agentes da história não seriam apenas os grandes homens e que o futuro não estaria determinado. A atuação política não deveria ocorrer apenas nas cúpulas parlamentares e partidárias, mas como exercício dos nacos de liberdade e responsabilidade que ainda restavam aos seres humanos.

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Em 1991, no prefácio de Costumes em comum, E. P. Thompson comentava o retorno a pesquisas adiadas desde a publicação de Albion’s Fatal Tree e Senhores & Caçadores, em inícios da década de 1970. O motivo principal dessa retomada foi a emergência da Segunda Guerra Fria, que teve seu ápice com a decisão da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) de modernizar seus arsenais atômicos, com a alocação de silos de mísseis em solo britânico (o que equivalia a transformar a ilha em alvo certo); logo em seguida, a intervenção soviética no Afeganistão; o acirramento da política de dissuasão (aliás, a teoria de que armamentos cada vez mais poderosos deteriam ataques inimigos indicaria uma situação em que a política quedava supérflua); em março de 1983, a divulgação por Reagan dos planos da Iniciativa de Defesa Estratégica (Guerra nas Estrelas), consistindo na criação de um domo antinuclear sobre o território americano; o anticomunismo como projeção de um Outro ameaçador; os crimes contra os direitos humanos e as perseguições internas na URSS; as articulações entre saberes e poderes que intensificavam gastos com o complexo militar, burocrático, acadêmico e industrial; o risco mesmo de o planeta ser destruído… Mais premente do que escrever histórias era viver a história.
Meios de comunicação de massas tornaram familiares, na década de 1980, os espectros de líderes governamentais e conselheiros militares. Ronald Reagan, Yuri Andropov, Mikhail Gorbachev, Margaret Thatcher, os secretários de defesa Caspar Weinberger, Mikhail Suslov, Dmitri Ustinov, Michael Heseltine, John Nott, Francis Pym, Geoffrey Howe… dançarinos pesados, bailarinos capatazes, heavy dancers, como os chamou E. P. Thompson (1924–1993). A militância antinuclear do historiador britânico reverbera pontos significativos de sua obra. De alguns métodos dessa área do conhecimento, vinham a desconfiança em relação às versões oficiais e a atenção para uma história vista desde baixo (from below), a indicar não só as camadas operárias, mas o que se chamava de “gente comum”. Ainda que Thompson admitisse (ou por isso mesmo) que planos e ações poderiam redundar em consequências inesperadas ou que o presente não seria o resultado lógico e necessário de eventos passados, teoricamente, sustentou que os agentes da história não seriam apenas os grandes homens e que o futuro não estaria determinado. A atuação política não deveria ocorrer apenas nas cúpulas parlamentares e partidárias, mas como exercício dos nacos de liberdade e responsabilidade que ainda restavam aos seres humanos.

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