João Cabral De Melo Neto: A Literatura Como Turismo

Sempre fiquei incomodada com a expressão arregalada e a voz cheia de admiração das pessoas dizendo:
— Você é filha de João Cabral!
Não sou “boazinha”. Isso pode ser confirmado por quem me conhece. Então, a partir do dia em que ouvi essa frase pela enésima vez, comecei a perguntar a quem a proferia:
— Qual é o poema dele que você prefere?


Depois de perguntar isso, instalava-se geralmente um silêncio incômodo, o que me fez perceber que João Cabral era uma figura mítica, ensinado nas escolas e adotado nas provas de literatura do vestibular, mas depois esquecido e nunca mais lido, a não ser por quem fizesse letras.
Essa reação me incomodava, porque tenho certeza de que, quando ele escrevia, fazendo com que eu e meus irmãos andássemos quase na ponta dos pés e falando baixo porque “seu pai está trabalhando”, ele queria ser lido e buscava, como qualquer ser humano, apreço e reconhecimento por seu trabalho, que acontecia apenas quando era lido por críticos e colegas.
Decidi então que minha missão era tornar seus poemas mais lidos e amados, e mostrar facetas menos conhecidas de sua obra. Daí esta coletânea, tomando como tema os locais em que viveu e por onde viajou.
Aqui está uma antologia que não fala apenas dos dois grandes assuntos de João Cabral: Pernambuco, onde nasceu, e Sevilha, que o apaixonou. Afinal, ele foi diplomata, conheceu muitos lugares e escreveu sobre eles. Este livro é, portanto, um punhado de poemas desses lugares, inclusive Sevilha, entremeado com breves relatos de minha vida ao lado dele. Espero que gostem, e que este livro os faça procurar ler suas obras maiores.

Certos autores são capazes
de criar o espaço onde se pode
habitar muitas horas boas:
um espaço-tempo, como o bosque.
Onde se ir nos fins de semana,
de férias, até de aposentar-se:
de tudo há nas casas de campo
de Camilo, Zé Lins, Proust, Hardy.
A linha entre ler conviver
se dissolve como em milagre;
não nos dão seus municípios,
mas outra nacionalidade,
até o ponto em que ler ser lido
é já impossível de mapear-se:
se lê ou se habita Alberti?
se habita ou soletra Cádis?

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Sempre fiquei incomodada com a expressão arregalada e a voz cheia de admiração das pessoas dizendo:
— Você é filha de João Cabral!
Não sou “boazinha”. Isso pode ser confirmado por quem me conhece. Então, a partir do dia em que ouvi essa frase pela enésima vez, comecei a perguntar a quem a proferia:
— Qual é o poema dele que você prefere?
Depois de perguntar isso, instalava-se geralmente um silêncio incômodo, o que me fez perceber que João Cabral era uma figura mítica, ensinado nas escolas e adotado nas provas de literatura do vestibular, mas depois esquecido e nunca mais lido, a não ser por quem fizesse letras.
Essa reação me incomodava, porque tenho certeza de que, quando ele escrevia, fazendo com que eu e meus irmãos andássemos quase na ponta dos pés e falando baixo porque “seu pai está trabalhando”, ele queria ser lido e buscava, como qualquer ser humano, apreço e reconhecimento por seu trabalho, que acontecia apenas quando era lido por críticos e colegas.
Decidi então que minha missão era tornar seus poemas mais lidos e amados, e mostrar facetas menos conhecidas de sua obra. Daí esta coletânea, tomando como tema os locais em que viveu e por onde viajou.
Aqui está uma antologia que não fala apenas dos dois grandes assuntos de João Cabral: Pernambuco, onde nasceu, e Sevilha, que o apaixonou. Afinal, ele foi diplomata, conheceu muitos lugares e escreveu sobre eles. Este livro é, portanto, um punhado de poemas desses lugares, inclusive Sevilha, entremeado com breves relatos de minha vida ao lado dele. Espero que gostem, e que este livro os faça procurar ler suas obras maiores.

Certos autores são capazes
de criar o espaço onde se pode
habitar muitas horas boas:
um espaço-tempo, como o bosque.
Onde se ir nos fins de semana,
de férias, até de aposentar-se:
de tudo há nas casas de campo
de Camilo, Zé Lins, Proust, Hardy.
A linha entre ler conviver
se dissolve como em milagre;
não nos dão seus municípios,
mas outra nacionalidade,
até o ponto em que ler ser lido
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