
Entrelinhas: Burocracia E Imaginação Nos Romances De Cyro Dos Anjos traz ao debate a problemática da racionalidade, em sua peleja com a imaginação. Citando a obra, pode-se afirmar que “O Conhecimento é uma partícula infinita, que se transmuta e acompanha os homens, inclusive em seus devaneios.
A literatura apresenta-se como um dos canais desse conhecimento mutante. Se o sonho remete à expectativa, à possibilidade e à esperança, a ficção cede sua ‘natureza virtual’ para que a vida, como num videogame, transforme-se em campo de jogo”.
O comentário sobre essas questões ligadas ao Conhecimento, aqui, intenta abrir o caminho do olhar do leitor para a discussão e a abordagem interpretativa da trilogia romanesca de Cyro dos Anjos, autor mineiro que, a partir década de 1930, no momento do segundo modernismo brasileiro, punha em questão o “problema fáustico” do conhecimento, camuflado sob múltiplas faces, no campo da burocracia vigente à época.
Aqui, nessa incursão na ficção de Cyro dos Anjos, a relação entre as exigências do cotidiano e a maneira de geri-la mostra os conflitos gerados entre a “vontade” e a ”possibilidade” sob o domínio da razão. E é no final do século XX que se passará a refletir sobre a queda da razão iluminista. Kant, com suas premissas, a prioris e “Críticas” começa a ser questionado.
No final do século XX, a questão central das reflexões passa a ser: é possível encontrar equilíbrio e paz interna, íntima, sob as instâncias limitadoras da razão? E surgem caminhos que põem em questão a própria racionalidade e a maneira como os homens criaram Deus à sua imagem e semelhança. O “Além-homem” nietzcheano, muitas vezes confundido com o cinematográfico Super-homem, irrompe como saída reflexiva, para “desconstrução” de um deus inventado pela religião da boa nova velha, de um pseudoevangelho que, muitas vezes, para se firmar, cria falsos messias, armados de empáfia e violência.
Esse deus que permite negociatas em seu tabernáculo, que destrói o que há de mais genuíno no ser humano, sua liberdade, é o que morre, nas reflexões nietzcheanas.
