
A partir de um íntimo diálogo costurado entre Grande Sertão: Veredas, do conterrâneo Guimarães Rosa, e a Pedagogia do Oprimido, do centenário e também pernambucano Paulo Freire, estes escritos tecem narrativas advindas de uma sala de aula de Língua Portuguesa Adicional localizada na Tríplice Fronteira mais populosa e movimentada do Brasil, entre Paraguai, Argentina e Brasil, mais especificamente na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), localizada na cidade de Foz do Iguaçu, no Paraná.
De 2013 a 2018, transitei-me, por diversas vezes, entre essa Tríplice Fronteira, local onde morava e trabalhava, e a minha cidade natal chamada Esmeraldas, localizada na região metropolitana de Belo Horizonte (MG). Costumo dizer que essa minha querida cidade habita um entre-lugar e/ou uma terceira margem, entre as Minas profundas de Carlos Drummond de Andrade e os vastos Sertões das Gerais de João Guimarães Rosa.
E essas constantes travessias, somadas às minhas múltiplas vivências na fronteira, sensibilizaram-me para epistemologias, ontologias e vivências outras que me tiraram das certezas e verdades cartesianas eurocêntricas perpetradas por um falacioso universalismo.
Esta libertadora e emancipadora travessia permitiu um encontro não apenas comigo mesmo, mas também com toda uma gama de ativistas, artistas, autores, pensadores, educadores-educandos e educandos-educadores latino-americanos que retiraram as escamas que vendavam minhas lentes, revelando-me as diferentes diferenças deste mundo que, em realidade, é diverso, é plural e é heterogêneo.
Em verdade, esta travessia translíngue e decolonial pelo ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa Adicional na Tríplice Fronteira pode nos fazer atravessar não somente as fronteiras e os sertões geográficos e físicos deste mundo – que ainda é redondo –, como também os sertões e as fronteiras que habitam dentro de nós mesmos. Esta viagem ruma para muito além de todos esses sertões e de todas essas fronteiras, sejam elas exteriores ou interiores!
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