
Jorge Amado: Da Ancestralidade A Representação Dos Orixás é um livro basilar para entender a relação deste escritor com a mitologia afro-brasileira e com diversos arquétipos da cultura negra do Brasil.
O autor privilegia vieses das culturas negras brasileiras para a construção do enredo de Dona Flor e Seus Dois Maridos. A partir dos arquétipos dos orixás Exu, Oxum e Oxalá, dentre outros, desvenda a tessitura do enredo amadiano, guiado por orikis e aspectos comportamentais de deidades nagôs.
A publicação traduz-se em oportunidade para uma leitura amadiana imbuída de um olhar mais negro, ao tempo em que pode ser orientadora para aplicação da cultura afro-brasileira em sala de aula.
Jorge Amado poderia parafrasear o ex-ministro da Educação Portella durante a “abertura” (1979-1980) que proferiu a frase que entrou para a história “não sou ministro estou ministro”, e ter dito, eu estou no candomblé mas não sou do candomblé.
Isto porque já havia constituído sua carreira literária como escritor engajado comprometido com o Partido Comunista, e já ter seus livros traduzidos em várias partes do mundo por assim dizer, quando então começou a frequentar mais assiduamente o terreiro dirigido por Mãe Senhora a Iyalorixá Oxun Muiwa, Iyanasso, da tradicional linhagem Axipa.
O Partido Comunista de então, totalitário stalinista não admitia outras diferenças sociais senão as classes, a “luta de classes” visando o poder de Estado.
Todavia através do viés ideológico de esquerda admitido de promover o “popular”, o candomblé passou a participar das suas criações literárias, e ele próprio se envolveu com o terreiro Ilê Axé Opô Afonjá ao ponto de receber o título de Oba Arolu um dos doze ministros de Xangô que compõem singularmente aquela casa tradicional.
Esse envolvimento para uns, foi motivo de admiração para outros no entanto, suscitou e atiçou preconceitos, patrulhas ideológicas, a ponto de depois de Dona Flor e Seus Dois Maridos como observa Gildeci, no livro posterior, Tenda dos Milagres, falando através do personagem Pedro Arcanjo Oju Oba, o autor tenta explicar seu posicionamento, estou mas não sou, isto é, afirmava continuar materialista e devotado as lutas populares o que justificava sua participação no candomblé promovendo uma cultura do povo.
