O Labirinto E O Espelho

Uma das prerrogativas do cinema de João César Monteiro, com incidência tal que neste estudo decidimos tomá-la como núcleo central da sua prática cinematográfica, é o conceito de dialogismo, objeto principal da nossa investigação acerca da obra monteiriana.


Na definição de dialogismo encontraremos, inevitavelmente, um labirinto terminológico bastante heterogéneo devido aos diversos conceitos que este implica.
A este propósito, introduziremos na primeira parte da obra, dedicada à exposição dos princípios teóricos, as propostas e interpretações postuladas por, entre outros, Algirdas Julien Greimas, Julia Kristeva, Cesare Segre, Umberto Eco, Michael Riffaterre, Jurij Lotman, Tzvetan Todorov, Vítor Manuel de Aguiar e Silva, Antoine Compagnon e Mikhail Iampolski, a fim de analisar a evolução da noção de dialogismo, definindo deste modo as fronteiras do campo da nossa investigação.
Não é nossa intenção fazer aqui uma análise exaustiva acerca dos autores acima mencionados, mas julgamos necessário apresentar, desde já, uma referência teórica imprescindível para o nosso estudo, Michail Bachtin, cujas reflexões foram elaboradas na área das ciências da literatura, em particular no âmbito da teoria do romance.
Para Bachtin não existe nenhum enunciado isolado dos outros enunciados: todos os textos são caraterizados por fórmulas anónimas congénitas à própria linguagem, por citações conscientes ou inconscientes, por fusões e inversões de outros textos.
O dialogismo define-se, portanto, como a relação que se instaura entre enunciados, noção que embrionariamente já contém tanto o conceito de transtextualidade, definido como “o conjunto das categorias gerais, ou transcendentes [...] a que pertence cada texto específico”, como o de interdiscursividade, que explica “as relações que cada texto [...] mantém com todos os enunciados (ou discursos) registados na correspondente cultura e ordenados, não só ideologicamente, mas também por registos e níveis”.
Com as devidas precauções, aplicaremos ao cinema as interpretações linguísticas deduzíveis das pesquisas bachtinianas. Analisaremos a obra de Monteiro como unidade textual plural, composta por vozes e imagens multiformes em que se ouve o eco dos outros aglomerados textuais ou discursivos das inumeráveis galáxias de referência.
Por esta razão, debruçar-nos-emos também sobre os processos de mediação entre o texto e o leitor/espectador.
Com efeito, o ato de leitura não pode prescindir da experiência que o leitor/espectador tem de outros textos: implica uma viagem regressiva, cuja finalidade é, por exemplo, a de identificar os quadros intertextuais e icónicos aos quais a obra de Monteiro está ligada e nos quais o cinema deste tem origem.

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Na definição de dialogismo encontraremos, inevitavelmente, um labirinto terminológico bastante heterogéneo devido aos diversos conceitos que este implica.
A este propósito, introduziremos na primeira parte da obra, dedicada à exposição dos princípios teóricos, as propostas e interpretações postuladas por, entre outros, Algirdas Julien Greimas, Julia Kristeva, Cesare Segre, Umberto Eco, Michael Riffaterre, Jurij Lotman, Tzvetan Todorov, Vítor Manuel de Aguiar e Silva, Antoine Compagnon e Mikhail Iampolski, a fim de analisar a evolução da noção de dialogismo, definindo deste modo as fronteiras do campo da nossa investigação.
Não é nossa intenção fazer aqui uma análise exaustiva acerca dos autores acima mencionados, mas julgamos necessário apresentar, desde já, uma referência teórica imprescindível para o nosso estudo, Michail Bachtin, cujas reflexões foram elaboradas na área das ciências da literatura, em particular no âmbito da teoria do romance.
Para Bachtin não existe nenhum enunciado isolado dos outros enunciados: todos os textos são caraterizados por fórmulas anónimas congénitas à própria linguagem, por citações conscientes ou inconscientes, por fusões e inversões de outros textos.
O dialogismo define-se, portanto, como a relação que se instaura entre enunciados, noção que embrionariamente já contém tanto o conceito de transtextualidade, definido como “o conjunto das categorias gerais, ou transcendentes […] a que pertence cada texto específico”, como o de interdiscursividade, que explica “as relações que cada texto […] mantém com todos os enunciados (ou discursos) registados na correspondente cultura e ordenados, não só ideologicamente, mas também por registos e níveis”.
Com as devidas precauções, aplicaremos ao cinema as interpretações linguísticas deduzíveis das pesquisas bachtinianas. Analisaremos a obra de Monteiro como unidade textual plural, composta por vozes e imagens multiformes em que se ouve o eco dos outros aglomerados textuais ou discursivos das inumeráveis galáxias de referência.
Por esta razão, debruçar-nos-emos também sobre os processos de mediação entre o texto e o leitor/espectador.
Com efeito, o ato de leitura não pode prescindir da experiência que o leitor/espectador tem de outros textos: implica uma viagem regressiva, cuja finalidade é, por exemplo, a de identificar os quadros intertextuais e icónicos aos quais a obra de Monteiro está ligada e nos quais o cinema deste tem origem.

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