O título deste livro tem inspiração no primeiro verso do Romance do pavão misterioso – lançado por João Melquíades Ferreira na década de 1920, mas de autoria atribuída posteriormente a José Camelo Rezende –, sem dúvida o cordel mais vendido de todos os tempos, verdadeiro best seller cujas reedições seguem ativas.
Não pretendemos, porém, realizar um estudo genealógico nem é o clássico cordelístico o centro de nossas atenções. Mas não só a homenagem é válida como a significância do verso está de acordo com nosso entendimento sobre qual seja uma das principais características do cordel: “contar uma história”.
Eu vou contar uma história,
Que trago aqui de memória,
Que fica na nossa mente,
Consciente e inconscientemente.
Vou falar sobre cordel,
Um pedaço de papel
Que conta de tudo um pouco:
De sábio e também de louco…
Homem louco foi o Nero,
Reduziu a Roma a zero.
Adenilson é sabido,
Do que dele tenho lido.
Com esse livro de agora
Que li no calor da hora,
Escreveu por linhas tortas
“O passo das águas mortas”.
Jerusa Pires Ferreira
Deixou nesta longa esteira
Estudos do “popular”,
“E manda o povo pensar”.
“O pavão misterioso”,
Romance muito ditoso.
“Os doze pares da França”,
O rei, a força e a pujança.
Leandro Gomes de Barros
Escreveu versos bizarros.
Ficou pra posteridade,
Por Carlos Drummond de Andrade.
“Popular” ou “erudito”:
O livro é um ser bendito.
Tem na vida essa meta,
Quem se mete a ser poeta.
O cordel, que estava à margem,
Começou em campo virgem,
Hoje é estudo de doutor,
Homem do povo e cantor.
É imprescindível o Nordeste,
Terra de cabra da peste,
Que bom cabrito não berra,
Mostra o valor desta terra.
O cordel é nordestino
Repente é repentino,
Paraíba masculina,
Não cabe gente mofina.
Num libreto bem rimado,
Tudo tem significado.
Em redondilha maior,
O ritmo fica melhor.
Pra concluir meu ofício
Usando do artifício,
De escrever um prefácio,
Na última flor do Lácio.
Wagner de Souza