Nos textos que compõem Encontros Com O Outro Na Escrita Do Agora, Fábio escreve aos invisíveis. A obra traz uma reunião de crônicas publicadas inicialmente no espaço virtual do Jornal Agora, de Rio Grande – RS, em um período de dois anos. E há algo de genial neste direcionamento que dá à palavra: não existe relação que não esteja carregada de virtualidade.
Nem mesmo a nossa, construída em um espaço que não é o da total invisibilidade: nos vemos apenas naquilo que nosso olhar consegue alcançar. E ainda que nossos olhos possam ir longe, e eles vão, sempre haverá o vazio, este lugar do desejo que possibilita a arte: o espaço potencial de Winnicott, o lugar da falta em Lacan – este é o nosso lugar mais bonito de encontro, eu diria.
É preciso, então, colocar-se em movimento, dizer sobre a necessária ruptura como educador, sobre as complexas redes de poder que permeiam as interações sociais e, sobretudo, da poesia que há no andar. Sim, andar, sempre, seja com o apoio de muletas em um shopping da capital ou com os pés descalços sobre a areia da Praia do Cassino, ao sul de lugar nenhum, como gostaria Bukowski. Andar e reconhecer os cães do caminho, a beleza impensada de uma carcaça de peixe, a possível história dos restos trazidos ou levados pelo mar.
É preciso, como escrevi certa vez, prender-se a um nome, a uma ideia, deixar que ela arranque lentamente seus pelos. É preciso sujar as mãos, cravar os dentes e, olhando nos olhos de Cronos, arranhar-se, condescendente.
Encontros Com O Outro Na Escrita Do Agora diz, sobretudo, da paixão de um homem pela palavra, e de sua contagiante utopia. Um homem que, na medida do possível, tem oferecido ao mundo a pílula vermelha, a despeito de toda barbárie ou invisibilidade. Um homem que olha, ama e escreve. Mas como disse Duras, “Escrever. Não posso. Ninguém pode. É preciso dizer: não se pode. E se escreve. É o desconhecido que trazemos conosco: escrever, é isto o que se alcança (…).
A escrita vem como o vento, nua, é de tinta, a escrita, e passa como nada mais passa na vida, nada, exceto ela, a vida”. As coisas mais belas, eu penso, permanecerão invisíveis.
Uma resposta
Fábio, essa gana pela palavra escrita ocupando o papel tem trazido bons instantes para minha vida de leitor, sigamos.