A Beleza É Uma Ferida
combina folclore, sátira e história, a potente voz do indonésio Eka Kurniawan – inspirada em Melville e Gogol – traz originalidade e relevância para a literatura contemporânea e oferece aos leitores o prazer na linguagem exuberante. Em A Beleza É Uma Ferida, a astuta, destemida e engenhosa Dewi se levanta do túmulo após 21 anos para contar a própria história e desvendar alguns mistérios. Mas talvez a principal razão para o forte desejo de voltar à vida seja visitar sua quarta filha, a quem ela deu à luz logo antes de morrer. Seu nome é Beleza, mas foi abençoada com a feiura, que Dewi tanto desejou para afastar a família de uma maldição. Ao longo da obra, o autor faz uma crítica mordaz ao passado conturbado de sua nação: a ganância do colonialismo; a luta pela independência; a ocupação japonesa; o assassinato de 1 milhão de “comunistas” em 1965, seguido por três décadas do governo despótico de Suharto.
Eka Kurniawan escreve romances, contos, roteiros de cinema e ensaios. Suas obras já foram traduzidas para 24 idiomas e seu romance A Beleza É Uma Ferida esteve na lista dos 100 mais lidos do New York Times.
Kurniawan foi o primeiro escritor indonésio a concorrer ao Man Booker International Prize.
Numa tarde de fim de semana em março, Dewi Ayu levantou-se do túmulo onde estava enterrada havia 21 anos. Um menino pastor, acordando de uma soneca debaixo de uma pluméria, fez xixi nas calças e gritou, e suas quatro ovelhas saíram correndo feito loucas entre pedras e estelas de madeira, como se um tigre tivesse pulado no meio delas. Tudo começou com um ruído vindo de uma velha sepultura, de lápide sem inscrição e coberta de mata até a altura dos joelhos, mas todo mundo sabia que era o túmulo de Dewi Ayu. Ela morrera aos 52 anos, ressurgiu depois de morta durante 21 anos, e a partir de então ninguém mais soube como calcular exatamente sua idade.