A Cidade Perversa

Neste trabalho, o autor aproxima o liberalismo, na sua fase atual, da pornografia, a partir de um traço comum a ambos: o excesso. Sobre os túmulos dos sujeitos kantiano e freudiano, poder-se-ia dizer, ergue-se um novo sujeito que, tão paradoxal quanto o título do livro, Cidade perversa

, erige o excesso em regra de vida. Este é o sujeito sadeano, cujo mundo é identificado por Dufour, logo nas primeiras linhas, com o supereu lacaniano: “um universo no qual os indivíduos obedecem, antes de mais nada, a este mandamento supremo: Goze!”.
Dufour considera, na verdade, dois patamares de transgressão. Ou, melhor dizendo, considera que houve uma passagem de uma primeira a uma segunda transgressão: a primeira diz respeito ao que se define classicamente como perversão, ou seja, como algo que, justamente por ser transgressão, só pode ser entendido a partir da lei; e a segunda, apesar de portar o mesmo nome, rompe no entanto com a relação necessária com a lei e se abre para o sem-limite, por força do que Dufour chama a uma certa altura de “desinibição pulsional”, que conduz à “servidão do homem liberado”.
Os modelos usados pelo autor para descrever essa passagem para o excesso são, do lado da perversão, as façanhas do Marquês de Sade, que em vários dos seus escritos, como, por exemplo, no panfleto Franceses, mais um esforço se quiserdes ser republicanos, e também em Os cento e vinte dias de Sodoma, este amplamente citado por Dufour, apresenta-nos o excesso como uma nova lei — aqui está o paradoxo — cujos fundamentos estariam na natureza. E, do lado do liberalismo, a hegemonia da grande finança em detrimento da produção, que em alguns casos, como comenta Dufour, elevou os lucros e os salários de alguns altos executivos internacionais a um patamar no qual já não se veem as relações de origem que teriam com o trabalho.
Isso ocorre sob a inspiração do que Dufour entende como um novo contrato social, que já não se dá entre o burguês e o proletário produtor, mas entre o “hiperburguês”, que expõe ao mundo o seu gozo excessivo, portanto obsceno, e o consumidor proletarizado, a quem é pedido que consuma até onde puder.

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Neste trabalho, o autor aproxima o liberalismo, na sua fase atual, da pornografia, a partir de um traço comum a ambos: o excesso. Sobre os túmulos dos sujeitos kantiano e freudiano, poder-se-ia dizer, ergue-se um novo sujeito que, tão paradoxal quanto o título do livro, Cidade perversa, erige o excesso em regra de vida. Este é o sujeito sadeano, cujo mundo é identificado por Dufour, logo nas primeiras linhas, com o supereu lacaniano: “um universo no qual os indivíduos obedecem, antes de mais nada, a este mandamento supremo: Goze!”.
Dufour considera, na verdade, dois patamares de transgressão. Ou, melhor dizendo, considera que houve uma passagem de uma primeira a uma segunda transgressão: a primeira diz respeito ao que se define classicamente como perversão, ou seja, como algo que, justamente por ser transgressão, só pode ser entendido a partir da lei; e a segunda, apesar de portar o mesmo nome, rompe no entanto com a relação necessária com a lei e se abre para o sem-limite, por força do que Dufour chama a uma certa altura de “desinibição pulsional”, que conduz à “servidão do homem liberado”.
Os modelos usados pelo autor para descrever essa passagem para o excesso são, do lado da perversão, as façanhas do Marquês de Sade, que em vários dos seus escritos, como, por exemplo, no panfleto Franceses, mais um esforço se quiserdes ser republicanos, e também em Os cento e vinte dias de Sodoma, este amplamente citado por Dufour, apresenta-nos o excesso como uma nova lei — aqui está o paradoxo — cujos fundamentos estariam na natureza. E, do lado do liberalismo, a hegemonia da grande finança em detrimento da produção, que em alguns casos, como comenta Dufour, elevou os lucros e os salários de alguns altos executivos internacionais a um patamar no qual já não se veem as relações de origem que teriam com o trabalho.
Isso ocorre sob a inspiração do que Dufour entende como um novo contrato social, que já não se dá entre o burguês e o proletário produtor, mas entre o “hiperburguês”, que expõe ao mundo o seu gozo excessivo, portanto obsceno, e o consumidor proletarizado, a quem é pedido que consuma até onde puder.

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