Espectros do Renascimento tem como objetivo a interpretação de cinco obras literárias de grande destaque da Renascença. Estamos tratando dos séculos XVI e XVII, fase em que a burguesia comercial surge como a nova classe social: ela irá revolucionar uma época. Mas tal classe tem pela frente um bloco histórico (na expressão de Gramsci) composto pela Igreja Católica e a classe aristocrática. Assim, essas obras sofrem a tensão da própria época, a transição do medievo para o moderno.
Em primeiro lugar estuda-se a Utopia, de Thomas Morus: uma famosa utopia espacial e que consagrou o termo “utopia”, tão importante após o século XVIII. Sobre a loucura, apresentamos dois capítulos. No segundo (capítulo), O elogio da loucura, de Erasmo de Roterdã e, no último, a grande obra de Miguel de Cervantes, Dom Quixote. Finalmente, nos dois outros capítulos (terceiro e quarto) se estuda o tema da astúcia. O confronto entre William Shakespeare e Nicolau Maquiavel é produtivo, pois o tema da astúcia perpassa os escritos de ambos em Medida por medida e A mandrágora, respectivamente.
A grande vantagem de se compreender essas obras culturais é perceber como os sujeitos históricos renascentistas (aqui, nos referimos aos artistas) se concebiam; como eles ensaiavam seu tempo e as expectativas que reservavam para o futuro. Um olhar atento sobre essas obras pode nos conduzir a uma breve reflexão: esses intelectuais sentem-se em uma nova época, algo que lhe traz uma profunda inquietação.
É desse sentimento que nascem as duas utopias que analisaremos: a utopia espacial de Morus e a do passado, em Miguel de Cervantes. Mas uma época que se vê só através da perspectiva pessimista torna-se “doente”. Assim, em nossos dias, desejar resgatar uma Renascença como foi em si se transforma em uma prática antiquada; ela é um sonho da historiografia positivista. Por isso a hermenêutica tem suas vantagens neste tema, pois é consciente dos sentidos que transportamos para o passado (estudado).