A corrupção e o terrorismo constituem porventura os dois maiores desafios da sociedade internacional do século XXI, as duas maiores ameaças à sociedade democrática.
Tais fenômenos parecem distintos, mas, na verdade, constituem duas facetas de uma mesma realidade.
Ambos são atos que põem em causa os princípios universais de gente civilizada.
Ambos são atos que atentam contra a democracia, o Estado de direito, as instituições e os cidadãos em geral. Ambos visam submeter ou modificar as estruturas políticas, sociais, econômicas e ambientais dos Estados. Ambos são preparados ou praticados por indivíduos isolados, assumindo, porém, maior gravidade quando levados a cabo por grupos organizados. Ambos constituem ameaças à escala planetária, diversificando-se contudo, quanto à origem, modos de expressão e consequências.
É certo que o terrorismo tem origem em sub-poderes e que a corrupção, pelo contrário, nasce dos poderes instalados, sobretudo, na sua forma ativa. E que o terrorismo exprime-se em atos violentos, de guerra na rua, enquanto corrupção se desenvolve silenciosamente, dentro de portas, através da persuasão e da cumplicidade.
Se o terrorismo mata, a corrupção gera a miséria, material e moral.
Tais fenômenos não são novos, mesmo tendo em atenção a sua dimensão internacional.
O que é novo é a sua magnitude, são os meios utilizados, a constituição de redes inseridas na sociedade, a utilização de meios altamente sofisticados e a dificuldade da sua detecção e erradicação.
O ato da corrupção, como o ato terrorista, é errático – não é fixo nem regular –, é aleatório, surge inesperadamente, sem se saber onde, nem quando, nem de quem – e é insólito porque contraria a ordem estabelecida.
Ambos são absolutamente inaceitáveis nos planos éticos, jurídico e político.
A corrupção e o terrorismo constituem, pois, a face negra da globalização.
Desterritorializados, com uma elevada capacidade de mutação e dissimulação, protoplásmicos e acéfalos por vezes, constituem uma ameaça e uma realidade perante a qual o Estado, por si só, se revela incapaz de afrontar e debelar.
Se o terrorismo estabeleceu uma rede de núcleos e células à escala mundial, a exigir a concertação dos Estados para o seu controlo, a corrupção também criou uma rede à escala global, tendo como santuários as off-shores, como instrumento privilegiado de mediação o sigilo bancário, e como cúmplices mais ou menos assumidos, determinadas instituições financeiras, a exigir também a ação conjugada dos Estados a nível mundial – se bem que, alguns, a contragosto.
A Economia Da Corrupção Nas Sociedades Desenvolvidas Contemporâneas
- Ciências Sociais, Direito, Economia
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