Os desafios, sem precedentes, impostos pela Covid-19, no Brasil e no mundo, convocam, com urgência, a arte e a ciência a pensarem sobre novos mundos, novos modos de ser e de viver. A sensação de estabilidade, provocada pela narrativa da normalidade, não logra êxito em um mundo pós-pandêmico. É preciso enfrentar as mudanças que, por vezes, não se apresentam como normais, pois fogem das regras e dos valores que antes imperavam.

Nessa conjuntura, o design tem a seu favor um potencial transformador, fruto da sua natureza transdisciplinar que rompe o status quo nas mais diversas esferas da vida em sociedade.

Este livro é baseado na tese Cenários Panoramáticos: Metodologia Para Projetação Em Design Estratégico, defendida em 2020 na Universidade do Vale dos Sinos, e apresenta o projeto por cenários como promissor para quem deseja especular novas realidades.

À luz do design estratégico desenvolve-se um percurso projetual que busca potencializar a imaginação. A imaginação é um ato de criação do sujeito, não como aquele que descobre uma realidade a priori, mas como aquele que a cria. Nesse âmbito, nos parece oportuno lembrar que os cenários no design favorecem a construção de narrativas ficcionais, utópicas e até mesmo lúdicas.

Especular novas realidades exige um espaço cênico para encenar, ensaiar e improvisar. E esse lugar é o cenário que no design é o palco do movimento projetual, lugar da suspensão da ordem e das normas, lugar do sonho e da imaginação.

Na busca por novos métodos para a produção de sentido na projetação por cenários, realizou-se uma experiência, de natureza exploratória, orientada pelos processos de significação e fundamentados na tríade percepção, interpretação e transformação.

A experiência ocorreu nas cidades de São Paulo, Nova Iorque e Cidade do México, entre 2019 e 2020, onde foram realizadas atividades de: (a) observação participativa, inspirada pela etnografia visual, com o registro fotográfico das cidades; (b) fragmentação das fotografias; (c) (re)montagem de imagens em oficinas artísticas; e, por fim, (d) tessitura das narrativas imagéticas produzidas coletivamente. Desse modo, fica evidente o agir projetual proposto pela metodologia intitulada cenários panoramáticos.