China Miéville – Estação Perdido
O aclamado romance que consagrou o escritor inglês China Miéville como um dos maiores nomes da fantasia e da ficção científica contemporânea. Miéville escreve fantasia, mas suas histórias passam longe de contos de fadas. Em Estação Perdido, primeiro livro de uma trilogia que lhe rendeu prêmios como o British Fantasy (2000) e o Arthur C. Clarke (2001), o leitor é levado para Nova Crobuzon, no planeta Bas-Lag, uma cidade imaginária cuja semelhança com o real provoca uma assustadora intuição: a de que a verdadeira distopia seja o mundo em que vivemos.
Com pitadas de David Cronenberg e Charles Dickens, Bas-Lag é um mundo habitado por diferentes espécies racionais, dotadas de habilidades físicas e mágicas, mas ao mesmo tempo preso a uma estrutura hierárquica bastante rígida e onde os donos do poder têm a última palavra.
Nesse ambiente, Estação Perdido conta a saga de Isaac Dan der Grimnebulin, excêntrico cientista que divide seu tempo entre uma pesquisa acadêmica pouco ortodoxa e a paixão interespécies por uma artista boêmia, a impetuosa Lin, com quem se relaciona em segredo.
Sua rotina será afetada pela inesperada visita de um garuda chamado Yagharek, um ser meio humano e meio pássaro que lhe pede ajuda para voltar a voar após ter as asas cortadas em um julgamento que culminou em seu exílio. Instigado pelo desafio, Isaac se lança em experimentos energéticos que logo sairão do controle, colocando em perigo a vida de todos na tumultuada e corrupta Nova Crobuzon.
Mundos espirituais se entremeando com mundos humanos cheios de integração/desintegração social e de psicologia em ruínas se entrelaçando, por sua vez, com criaturas que são mosaicos de vísceras, montagens orgânicas, anatomias cubistas inoculadas com alguma inteligência artificial, mas todos se comunicando, se fundindo, se fodendo num interminável e intenso cruzamento de tecnologias antigas e recentes, e tudo é gambiarra prodigiosa movida a vapor, com fiações desencapadas, gatilhos e disjuntores criando seres transpassados prosaicamente por raciocínios humanos, dimensões sobrenaturais e frequências invisíveis.
Taumatúrgons, autoconsciência, elétrons e demônios. O básico. China nos conduz pela feérica balbúrdia atual, onde mente e corpo são abduzidos pelas interações, proliferações, simbioses, sinestesias, sinergias e, principalmente, saturações sociais, todas elas apresentadas como Fúrias contemporâneas, e não como meros confortos de velocidade empreendedora.
China Miéville tem mais é que ser exaltado, pois nos fornece um documento sobre a Volúpia Terrível que envolve a vida nos grandes centros urbanos, apresentados por ele como gigantescos animais de temperamento hipercomercial mas vocação autofágica geradora de monstros de pântanos – transformers surgidos das sobras descomunais.
Cidades como coliseus, arenas comerciais onde rolam festas sangrentas e patológicas de batalha pela sobrevivência e pelas rações desiguais de afetos.
Territórios definitivamente experimentais onde as pessoas são mais ou menos humanas, em inevitável interação com mutações sorrateiras, com inteligências inesperadas, criaturas cujos corpos são parafernálias de nervos e dínamos, fauna de quimeras de alta classe ou fracassadas e clandestinas.
