No livro Coletivo Domingos De Angola: A Capoeira Teresinense Entre O Público E O Privado, Childer Silva nos apresenta uma etnografia sensível, cujo resultado foram conceitos e conclusões importantes para a compreensão das relações sociais entre capoeiristas no interior do universo da capoeira, assim como da relação entre a capoeira e as instâncias da sociedade mais ampla, o que torna a leitura interessante tanto aos pesquisadores do tema quanto aos próprios membros da comunidade ou apreciadores da capoeira.

Importante salientar que o trabalho do autor é marcado por um contexto repleto de emoções e superações, como o falecimento precoce de seu principal interlocutor, o camarada Felipe Esdras, uma figura querida e interessante por seus gostos aparentemente destoantes, o trabalho voluntário com capoeira e a criação de um método de terapia corporal a ser implementado em clínicas de fisioterapia particulares.

Inicialmente, a pesquisa se baseou nos treinos e nas rodas do Coletivo Domingos de Angola realizadas por Felipe Esdras nos parques da cidade de Teresina, onde Childer Silva identifica uma fluidez nas relações de pertencimentos muito peculiares e problematiza os limites do “sistema de linhagem”, estruturado através de conjuntos de “fundamentos” definidores de pertencimento duradouro, articulados em unidades sociais definidas (núcleo, grupo e linhagem).

Considerando a categoria nativa, o autor desenvolve a noção de “coletivo” em complementação aos termos do sistema de linhagem: coletivo é “um tipo de pertencimento provisório e contextual no qual não há a necessidade de se escolher, naquele momento, apenas um em detrimento de outros. Um pertencimento que se faz, se desfaz e se refaz constantemente, uma vez que os sujeitos envolvidos nas relações gozam de autonomia para exibir outros vínculos e outros valores dependendo da situação e do contexto”.