Quando comecei a me interessar pelo tema das alforrias, sobretudo em Minas Gerais, por fatores que diziam respeito à dinâmica da escravidão naquela região, as questões relacionadas à história das mulheres e ao gênero não constituíam o centro das minhas investigações.
Aos poucos, como se tivesse “ autonomia própria ” , o elemento gênero passou a ter importância em minha pesquisa, insinuando-se, primeiramente, nos dados quantitativos – logo eles, aparentemente “ tão neutros ” –, que confirmavam as conclusões dos estudos anteriores de que ao comportamento das práticas de alforria de forma alguma era indiferente a distinção por gênero.
Das diversas fontes que utilizei, algumas davam conta de que ex-escravas não apenas participavam ativamente das atividades econômicas da região, como moviam causas judiciais nas quais reivindicavam direitos à preservação de sua própria liberdade ou a de terceiros, como filhos e outros parentes e lutavam pelo reconhecimento de prerrogativas conquistadas ainda no cativeiro.
Isso sem falar no papel desempenhado pelos arranjos familiares, na maioria dos casos encabeçados por mulheres, na conquista da alforria e na dinâmica societária da capitania e da província de Minas Gerais. Tais constatações despertaram em mim a convicção da importância de se considerar a categoria gênero na compreensão dos processos históricos, desde os mais fragmentários até aqueles que se pretendessem abrangentes e me conduziram à elaboração deste trabalho.
Não preciso me estender sobre a afirmação de que se trata de um tema cuja amplitude é de tirar o fôlego. Afinal de contas, que sociedade humana não produziu de forma mais ou menos sistemática discursos e práticas, velados ou não, sobre as relações entre homens e mulheres ?
Sob o fio condutor da categoria gênero, procurei realizar uma abordagem que ressaltasse a natureza relacional da construção das definições de feminino e masculino, apontando, sob o discurso muitas vezes legitimado por homens e mulheres de uma desigualdade inata, que as diferenças entre o feminino e o masculino, até por se alterarem historicamente, foram socialmente construídas.
Ressaltar a importância da análise relacional não significa que não se tenha dado grande atenção à história das mulheres, campo que se desenvolveu de forma expressiva nas últimas décadas. Ao contrário, como se verá, mas sempre procurando abordá-la de forma não essencialista, ou seja, buscando superar a idéia de que existe uma condição feminina imutável.
História & Gênero
- Ciências Sociais, História
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