O Indizível Em Clarice Lispector

O livro propõe haver, na obra de Clarice, uma trajetória na qual a autora pouco a pouco perde a necessidade de anunciar o indizível como projeto de escrita.

O texto de Clarice lembra que o indizível é parte constituinte da civilização humana, mas que, por não ser reconhecido como tal, é percebido como uma invasão. Os seres humanos buscam, em vão, uma proteção contra esse fato inelutável.

Em sua fantasia narcísica de potência plena, o homem não quer reconhecer o limite radical do indizível, que tangencia a própria morte. Busca renegar todas as aparições desse limite, tentando encobri-lo.

Clarice lembra que manter o indizível em seu lugar permite manter a causa da escrita e, em última instância, o próprio movimento da vida. Pode-se, portanto, compreender a busca de Clarice pelo indizível como um ato ético de acolhimento daquilo que se pretende negar e excluir. Há, em seus escritos, o reconhecimento da dupla função de limite e causa que o indizível comporta.

A escrita de Clarice Lispector opera um corte que evidencia, de um lado, o que é possível relatar e, de outro, aquilo que é experimentado, mas que permanece excluído do campo discursivo, ou seja, é indizível. Evidencia, sobretudo, que a experiência com o indizível é a mola do discurso.

O exercício da leitura literária é capaz de iluminar o caminho do psicanalista até o ponto limite. Trata-se, em ambos os casos, de operar com as letras, cortes na superfície capazes de contornar o vazio, a impossibilidade de representação e que, assim, estabelecem o encadeamento de toda possibilidade de representar.

Aproximando a psicanálise da literatura, Lacan chega mesmo a propor a noção de letra como o elemento que promove o litoral entre os campos heterogêneos, o Simbólico e o Real.

Para a abordagem do indizível na escrita de Clarice Lispector, elegemos os romances A paixão segundo G. H. (1964), Água viva (1973), A hora da estrela (1977) e Um sopro de vida (1978) e o conto “O ovo e a galinha” (1971).

Em função do grande destaque da autora como contista e da peculiaridade
deste conto em relação à questão do indizível, ele foi incorporado ao conjunto dos romances analisados.

A barata de G. H., Ângela, Macabéa e o ovo do “O ovo e a galinha” serão tomados, nestes estudos, como elementos promotores da articulação entre a palavra e o indizível.

Cumprem a função de letras no sentido lacaniano porque comportam a ambiguidade de serem plenos de significação e de denunciar o momento em que todo esforço nesse sentido se torna nulo.

De acordo com a hipótese de que ocorreria, nos últimos escritos, uma diminuição da peleja da autora com a linguagem, o ápice da transmissão do indizível será encontrado em A hora da estrela. É à demonstração deste que pretendo chegar ao final do percurso.

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O livro propõe haver, na obra de Clarice, uma trajetória na qual a autora pouco a pouco perde a necessidade de anunciar o indizível como projeto de escrita.

O texto de Clarice lembra que o indizível é parte constituinte da civilização humana, mas que, por não ser reconhecido como tal, é percebido como uma invasão. Os seres humanos buscam, em vão, uma proteção contra esse fato inelutável.

Em sua fantasia narcísica de potência plena, o homem não quer reconhecer o limite radical do indizível, que tangencia a própria morte. Busca renegar todas as aparições desse limite, tentando encobri-lo.

Clarice lembra que manter o indizível em seu lugar permite manter a causa da escrita e, em última instância, o próprio movimento da vida. Pode-se, portanto, compreender a busca de Clarice pelo indizível como um ato ético de acolhimento daquilo que se pretende negar e excluir. Há, em seus escritos, o reconhecimento da dupla função de limite e causa que o indizível comporta.

A escrita de Clarice Lispector opera um corte que evidencia, de um lado, o que é possível relatar e, de outro, aquilo que é experimentado, mas que permanece excluído do campo discursivo, ou seja, é indizível. Evidencia, sobretudo, que a experiência com o indizível é a mola do discurso.

O exercício da leitura literária é capaz de iluminar o caminho do psicanalista até o ponto limite. Trata-se, em ambos os casos, de operar com as letras, cortes na superfície capazes de contornar o vazio, a impossibilidade de representação e que, assim, estabelecem o encadeamento de toda possibilidade de representar.

Aproximando a psicanálise da literatura, Lacan chega mesmo a propor a noção de letra como o elemento que promove o litoral entre os campos heterogêneos, o Simbólico e o Real.

Para a abordagem do indizível na escrita de Clarice Lispector, elegemos os romances A paixão segundo G. H. (1964), Água viva (1973), A hora da estrela (1977) e Um sopro de vida (1978) e o conto “O ovo e a galinha” (1971).

Em função do grande destaque da autora como contista e da peculiaridade
deste conto em relação à questão do indizível, ele foi incorporado ao conjunto dos romances analisados.

A barata de G. H., Ângela, Macabéa e o ovo do “O ovo e a galinha” serão tomados, nestes estudos, como elementos promotores da articulação entre a palavra e o indizível.

Cumprem a função de letras no sentido lacaniano porque comportam a ambiguidade de serem plenos de significação e de denunciar o momento em que todo esforço nesse sentido se torna nulo.

De acordo com a hipótese de que ocorreria, nos últimos escritos, uma diminuição da peleja da autora com a linguagem, o ápice da transmissão do indizível será encontrado em A hora da estrela. É à demonstração deste que pretendo chegar ao final do percurso.

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