
Na obra de Rainer Maria Rilke e de Clarice Lispector, fica sempre a impressão de que alguns gestos permanecem fora do lugar, como se, à deriva de significados desconhecidos, eles fizessem parte de uma linguagem que surge no instante em que tudo desaparece. Ao longo de A Transfiguração Do Olhar, Alexandre Rodrigues da Costa oferece reflexões sobre como esses gestos se formam, como as obras de autores, aparentemente tão distantes e diferentes um do outro, podem abordar, cada um a seu modo, a relação entre as artes visuais e a literatura, entre aquele que olha e o mundo que se ergue diante dele.
Com A Transfiguração Do Olhar, o autor busca perceber de que maneira se dá o olhar na obra de Rilke e de Clarice sobre as artes visuais. Para isso, ele se detém em como esse olhar se forma a partir do contato do sujeito com o mundo à sua volta. Daí a importância, para este estudo, das análises de Paul de Man e de Merleau-Ponty, seja do ponto de vista retórico ou fenomenológico, sobre o quiasma.
Ao enfatizar as relações que Rilke e Clarice fazem entre a literatura e as artes visuais, o autor também se utiliza do quiasma para analisar como os dois autores interpretam o abstrato e o figurativo, e, consequentemente, contestam os limites impostos entre as artes. Alexandre Rodrigues da Costa demonstra, assim, como Rilke e Clarice articulam em seus textos reflexões que acabam nos levando para uma análise do próprio olhar e, dessa maneira, tornam possível pensar as artes como forma de comunhão entre o sujeito e o mundo, no momento em que ela questiona si mesma e o espaço que ocupa no mundo.
