O governo federal que assumiu em janeiro 2019 representa uma etapa superior do rentismo no Brasil1. Mais do que em qualquer período histórico político anterior, com a chegada de Jair Bolsonaro à presidência da República o rentismo se apropriou dos aparelhos de Estado no país.
Pior, os principais cargos na área econômica foram preenchidos por gente muito mais próxima do mercado de capitais (gestores da riqueza privada) do que do mercado financeiro propriamente dito, como era a maioria dos quadros rentistas que circularam pelos governos anteriores.
O Brasil talvez seja o país que registra a maior e mais influente presença do rentismo na sociedade. Mesmo países que abrigam os centros financeiros que comandam os interesses do rentismo no mundo (EUA, Reino Unido, Holanda), conseguem manter algumas instituições políticas que servem de freio à ação rentista em seus próprios territórios.
No Brasil, por conta do modo com que mergulhamos na dívida externa nos anos 1970, em razão das estratégias autoritárias e antipopulares empregadas para enfrentar a crise da dívida nos anos 1980 e dos mecanismos de proteção à hiperinflação ofertados aos ricos, sofremos uma deformação acelerada de nosso capitalismo tardio.
Saltamos sem escalas do desenvolvimentismo de uma economia mista (com participação central das holdings estatais) para uma desindustrialização precoce, motivada em última instância pela prevalência descomunal da acumulação financeira, em detrimento da acumulação produtiva.
Com o novo governo, encabeça esse projeto na área econômica um velho Chicago Boy, o economista Paulo Guedes, doutor pela Universidade de Chicago em 1978 e treinado no Chile nos anos de auge da ditadura do general Augusto Pinochet (1973-1990), onde outros egressos dessa mesma casa lideraram de forma pioneira a implantação de um regime neoliberal, ainda antes de Margaret Thatcher (Reino Unido) e Ronald Reagan (EUA).
O rentismo atual tem uma vinculação umbilical com a onda neoliberal que deslanchou nos anos 1970, como resposta do grande capital à crise geral que viveu nesse período. E o neoliberalismo é uma forma de (des)regulação do capitalismo que precisa do amparo de um estado repressivo.
Se trata de extrair volumes maiores dos trabalhadores para passar às mãos dos detentores de capital. Esse resultado exige condições políticas extraordinárias para ser alcançado.