
Este livro é fruto de discussões referentes à pesquisa intitulada O uso de narrativas como estratégia de formação na interface entre psicologia e educação e produções do grupo de pesquisa Escrita e Formação do Instituto de Psicologia da USP.
As(os) autoras(es) trataram da escrita no processo formativo, dando ênfase à relação com aquela(e) da(do) qual se fala na construção da escritura. Escrever levando em conta a presença desses de quem se fala promoveu a discussão sobre os temas trabalhados: escreve-se aos jovens que vivem as medidas socioeducativas como forma de colocar essas medidas em análise; direciona-se uma carta a uma bebê cuja mãe está presa em uma penitenciária como maneira de indagar as formas de avaliar e tratar essas mulheres-prisioneiras-mães; constrói-se um percurso narrativo a partir do diálogo com estudantes de classes sociais desprivilegiadas do IPUSP como forma de problematizar a produção de relações de desigualdade no Instituto.
A escrita endereçada, assim, não é uma característica restrita à carta, ela é uma metodologia de pesquisa que visa implicar o pesquisador no diagrama de forças do campo tematizado, recurso para combater a propensão ao queixume diante dos problemas, à culpabilização frente a impedimentos e à prescrição de medidas e condutas a serem tomadas. O endereçamento e a discussão dos textos escritos nos permitem habitar essa trincheira, essa incisão entre nós e o outro, em que é possível agir.
Os trabalhos apresentados em A Escrita Como Exercício Em Processos Formativos ressaltam um dos atravessamentos fundamentais na atividade de pesquisa: escrever. O texto escrito em pesquisas nas ciências humanas é campo de atividade do pesquisador, um laboratório em que a realidade é criada e performada. Se performamos realidade, então o método é político, assim como a escrita.
Dessa forma, compreendemos a discussão e os exercícios de escrita desenvolvidos nesta publicação e presentes na configuração do grupo de pesquisa Escrita e Formação como ação micropolítica que performa processos de subjetivação e cria realidades que visam a ampliação da análise dos fenômenos em processos formativos de pesquisadores e profissionais.
