Num mundo que ergue fronteiras de arame farpado e em que o estigma do estrangeiro se inscreve a ferro e fogo no quotidiano, Políticas Da Inimizade é um lúcido ensaio sobre a hostilidade e as formas que ela assume nas sociedades contemporâneas.
Retrocedendo, na senda de Frantz Fanon, à tirania dos regimes coloniais e escravagistas como semente da inimizade global contemporânea, Achille Mbembe analisa os vetores desta violência planetária – que se manifesta na ressurgência de nacionalismos atávicos, na guerra contra o terrorismo, sacramento da nossa época, e num racismo de Estado que, a pretexto da defesa da civilização, varre réstias de democracia e suspende direitos dos cidadãos.
Políticas Da Inimizade relembra, em suma, que seremos sempre seres de fronteira e fragmentos de uma mesma humanidade.
Em Políticas Da Inimizade, Achille Mbembe, historiador, filósofo e politólogo camaronês, reelabora temas que lhe são caros e que estão intimamente ligados às suas obras anteriores assim como a sua manifesta conexão com pensadores que se articulam na sua escrita e no seu modo de pensar, como os martinicanos Frantz Fanon e Édouard Glissant.
Na Introdução, Achile Mbembe expõe tal modo de pensar ao apresentar o seu ensaio como um conjunto de textos não lineares que dão uma forma rugosa a um assunto igualmente rugoso.
A metáfora geomorfológica evocada por ele não é casual, mas surge exatamente como uma primeira marca da influência de Édouard Glissant que utiliza essa mesma metáfora para fazer referência tanto a um modo de pensar movido pela geografia da Martinica e pela cultura crioula local, cuja principal característica é a plasticidade da paisagem formada pelo contato e a tensão entre elementos diversos que foram esculpidos e moldados pela ação do tempo e das relações, como a uma compreensão do caráter cumulativo dos eventos formadores do real.