
A constatação da existência de um inconsciente não poderia passar despercebida para qualquer disciplina que buscasse compreender o comportamento humano, mas não há de se propor uma simples submissão da história à psicanálise, de modo a ignorar o método histórico, ou de exigir que os historiadores necessariamente se tornem psicanalistas.
Trata-se, indiscutivelmente, de duas abordagens distintas que não pretendem se fundir. O que se propõe refletir é que, a partir do momento em que o historiador se arrisca a associar a psicanálise ao seu ofício, pode não ser muito proveitoso tomá-la por partes sem levar em consideração a totalidade à qual pertence e sem refletir teoricamente sobre o que, anteriormente, levou a tais divisões e escolhas.
Unir história e psicanálise no que diz respeito à validade e possibilidade de utilizar o método psicanalítico no ofício historiográfico encontrou-se como discussão, em especial, em duas obras que expõem a questão com abordagens notavelmente distintas. Essas obras são Freud para Historiadores, de Peter Gay, e História e Psicanálise: entre ciência e ficção, de Michel de Certeau, dois livros constantemente retomados por qualquer historiador que se arrisque a tentar incorporar a psicanálise em suas investigações.
Essa incorporação, entretanto, ainda pressupõe, costumeiramente, a psicanálise como um método de análise e teoria do comportamento humano, forjando uma divisão entre a psicanálise clínica e a metapsicologia freudiana.
Para Gay, o historiador, percebendo ou não, age sempre como um psicólogo amador: atribuindo motivos, estudando paixões, irracionalidades e procurando causas que incluem atos mentais. Gay argumentou a favor de uma história que fosse instruída pelo saber psicanalítico, mostrando que a psicanálise pode ser utilizada nas mais diversas etapas da construção do conhecimento histórico sem substituir outros métodos interpretativos.
Foi inevitável que a historiografia não ficasse imune a essa nova dimensão do sujeito desvelada por Freud. A noção de inconsciente possibilitou que se percebesse que o processo histórico não é guiado apenas por forças estruturais ou conjunturais explícitas, mas perpassado por subjetividades que escapam à ordem do consciente. Apesar de o diálogo ser claramente possível e parecer, à primeira vista, bastante adequado, existiu e existe ainda uma resistência de muitos historiadores à psicanálise.











