
Após hesitar diante da proposta do poeta Virgílio, Dante Alighieri decide seguir o seu guia e adentrar às portas do inferno. Ao entrar, ele lê as duras palavras inscritas sobre o portal: “Vai-se por mim à cidade dolente, vai-se por mim à sempiterna dor, vai-se por mim entre a perdida gente”.
Com estas mesmas duras palavras, o filósofo alemão Eric Voegelin inicia a sua obra As Religiões Políticas, de 1938. Para Voegelin, o significado desta epígrafe não poderia ser mais explícito, ele observava que a sua própria sociedade estava entrando nos portões do inferno.
Mas, infelizmente, a nação alemã não era guiada pelo sublime Virgílio, muito menos pela jovem Beatriz.
Publicado em Viena dias antes da funesta anexação da Áustria pela Alemanha nazista, As Religiões Políticas marca o combate pessoal de Eric Voegelin contra o nacional-socialismo e demais movimentos totalitários da sua época.
Por sua crítica ao nacional-socialismo, o autor foi perseguido por oficiais da Gestapo que confiscaram todos os exemplares da sua obra e forçaram-no a se exilar primeiramente na Suíça e depois nos Estados Unidos.
Nesta obra, como em outras do mesmo período, Voegelin começa a desenvolver suas primeiras intuições com relação aos problemas da ordem política e de como estes problemas não podem ser reduzidos às questões de ordem legal ou institucional como a moderna ciência política prescrevia.
Para ele, existia um substrato religioso e metafísico na ideia de estado que também deveria ser considerado na análise dos problemas relativos à ordem da sociedade.
A inobservância destes aspectos incapacitou a ciência política do seu tempo, fortemente influenciada pelo positivismo neo-kantiano, de compreender e prever plenamente as motivações espirituais que animavam os movimentos totalitários.
Na sua compreensão, a ciência política havia estreitado o seu campo de análise, restringindo, deste modo, a realidade a ser analisada apenas aos fenômenos do estado, da sua ordem jurídica e das suas instituições.
Renegando, assim, os problemas espirituais para um plano secundário. Criou-se então a crença de que a realidade poderia ser separada em partes e que cada parte poderia e deveria ser analisada isoladamente.











