Henry Bauchau - Édipo Na Estrada

Após matar seu pai, após decifrar o mistério da Esfinge, após tornar-se rei de Tebas, casar-se e ter filhos com a própria mãe, após a descoberta de toda a verdade trágica, havendo vazado os próprios olhos, Édipo abandona a cidade como amaldiçoado e mendigo, tendo por guia a filha Antígona.

A partir daí, excetuando a chegada a Colono, tudo fica vago nos relatos mitológicos quanto ao destino do personagem inesgotável.

É a continuação dessa aventura que encontramos neste Édipo Na Estrada, magistral romance do grande escritor belga Henry Bauchau.

Por bosques e falésias, grutas e aldeias, em meio a toda sorte de privações, a fome e o frio, a violência e o repúdio, Édipo constrói o seu caminho.

Mais do que um romance mitológico, com toda a movimentação de um livro de aventuras, encontramo-nos perante uma espécie de narrativa sapiencial, através da qual o cego atinge a clarividência, o doente alcança os poderes da cura, o extraviado reencontra seu caminho.

Dividido em dezesseis capítulos, com mais de um narrador, que se desenvolvem em uma prosa admiravelmente límpida, Édipo Na Estrada conduzirá o leitor para uma mágica Grécia do período heroico, anterior a toda a história, onde os clãs e seus numes protetores rivalizam numa paisagem inesquecível, onde, através dos bosques, esconde-se o terrível bandido Clio, até que seu encontro com o destronado rei de Tebas o arraste também pela estrada do autoconhecimento, ao lado da jovem e devotada Antígona.

E ele igualmente nos narrará sua própria história trágica, sua amizade impossível com Alcion, o pastor do clã rival, e a sua fuga sem esperança até o encontro com o cego em busca de seu destino.

Édipo, em sua estrada interminável, transforma-se por sua vez em escultor, aedo, escriba, dançarino e finalmente naquele que cura e naquele que salva, e o caminho nunca se acaba.

Romance simbólico do destino humano, irresistível romance de aventuras, narrativa labiríntica da busca do eu, Édipo Na Estrada aparece-nos, dentro do universo recente da prosa de expressão francesa, como uma dessas obras já nascidas clássicas, pelo seu equilíbrio e sua perfeição.