Dentro Das Marés

Os contos de Joseph Conrad (1857-1924) não são famosos como suas novelas (O coração das trevas, O agente secreto) e romances (Lord Jim, Nostromo), obras-primas modernas por sua descrição aguda da natureza humana como esquiva e corruptível.

E quem conhece o estilo de Conrad, sua escrita cromática e impressionista, costuma imaginar que ele não seria adequado ao gênero da história curta, pela simples falta de espaço para criar o clima nebuloso, tão marcante em suas narrativas. Eis então outro bom motivo para ler este Dentro das marés (Within the Tides), além da qualidade intrínseca dos textos aqui reunidos – melhores que os melhores de muitos contistas natos. Depois de ler estes contos, você vai se sentir obrigado a repensar os conceitos vigentes sobre a literatura de Conrad.
Dentro das marés é de 1916, posterior, portanto, à fase de ouro de Conrad, que vai de 1900 (Lord Jim) a 1912 (Chance), o que não significa que não tenha escrito boas narrativas antes (O Negro do ‘Narcissus’, 1897) ou depois (Vitória, 1915). Mas, a partir dali até sua morte, Conrad não mais atingiu o mesmo nível de excelência.
Nestes contos, assim, encontramos um escritor maduro e realizado que já explorou seus temas centrais, que já desenvolveu suas obsessões em tramas de rara consistência e beleza, e que já deixou uma contribuição única para a literatura mundial. Justamente por estar em posse plena desse repertório, pode condensá-lo na forma do conto, encontrando o caminho mais curto para pincelar a sugestão mais vasta. São textos que demonstram ainda mais o poder narrativo de Conrad.
O segredo de Conrad, afinal, é esse. Ele é um mestre da ambientação não apenas porque sua descrição dá margem a dúvidas e ambiguidades, atrasando a decodificação da trama, mas porque o faz escolhendo a palavra mais exata, sem o menor desperdício de informações. É essa capacidade de colocar o preciso a serviço do impreciso que faz de Conrad um autor sui generis, inimitável. Os grandes ficcionistas criadores de “climas” – como, para citar outros que partilham seus cenários, um Rudyard Kipling ou H. Rider Haggard – lançam mão de termos vagos ou imagens genéricas. Conrad não quer o adjetivo banal, o detalhamento redundante; é uma voz intensiva, que concentra cada frase com energia intelectual e emocional. Como notou o crítico americano H.L. Mencken, um dos que primeiro enxergaram a grandeza de Conrad, você não pode retirar uma única palavra de O coração das trevas sem que a história desmorone, como numa avalanche.

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Os contos de Joseph Conrad (1857-1924) não são famosos como suas novelas (O coração das trevas, O agente secreto) e romances (Lord Jim, Nostromo), obras-primas modernas por sua descrição aguda da natureza humana como esquiva e corruptível. E quem conhece o estilo de Conrad, sua escrita cromática e impressionista, costuma imaginar que ele não seria adequado ao gênero da história curta, pela simples falta de espaço para criar o clima nebuloso, tão marcante em suas narrativas. Eis então outro bom motivo para ler este Dentro das marés (Within the Tides), além da qualidade intrínseca dos textos aqui reunidos – melhores que os melhores de muitos contistas natos. Depois de ler estes contos, você vai se sentir obrigado a repensar os conceitos vigentes sobre a literatura de Conrad.
Dentro das marés é de 1916, posterior, portanto, à fase de ouro de Conrad, que vai de 1900 (Lord Jim) a 1912 (Chance), o que não significa que não tenha escrito boas narrativas antes (O Negro do ‘Narcissus’, 1897) ou depois (Vitória, 1915). Mas, a partir dali até sua morte, Conrad não mais atingiu o mesmo nível de excelência.
Nestes contos, assim, encontramos um escritor maduro e realizado que já explorou seus temas centrais, que já desenvolveu suas obsessões em tramas de rara consistência e beleza, e que já deixou uma contribuição única para a literatura mundial. Justamente por estar em posse plena desse repertório, pode condensá-lo na forma do conto, encontrando o caminho mais curto para pincelar a sugestão mais vasta. São textos que demonstram ainda mais o poder narrativo de Conrad.
O segredo de Conrad, afinal, é esse. Ele é um mestre da ambientação não apenas porque sua descrição dá margem a dúvidas e ambiguidades, atrasando a decodificação da trama, mas porque o faz escolhendo a palavra mais exata, sem o menor desperdício de informações. É essa capacidade de colocar o preciso a serviço do impreciso que faz de Conrad um autor sui generis, inimitável. Os grandes ficcionistas criadores de “climas” – como, para citar outros que partilham seus cenários, um Rudyard Kipling ou H. Rider Haggard – lançam mão de termos vagos ou imagens genéricas. Conrad não quer o adjetivo banal, o detalhamento redundante; é uma voz intensiva, que concentra cada frase com energia intelectual e emocional. Como notou o crítico americano H.L. Mencken, um dos que primeiro enxergaram a grandeza de Conrad, você não pode retirar uma única palavra de O coração das trevas sem que a história desmorone, como numa avalanche.

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