Rei Negro

Em seu Anedotário da Academia Brasileira Josué Montello registra a confissão de Coelho Neto a um jornal do Rio de Janeiro ao afirmar que, entre seus romances, novelas, contos e crônicas ele já publicara 580 títulos.

Esta dedicação à literatura, e principalmente a qualidade de sua obra, tornaram-no um de nossos mais importantes ficcionistas em atividade entre o final do século XIX e os inícios do XX. Eleito Príncipe dos Prosadores Brasileiros, Coelho Neto conheceu um período de glória literária mas, com o advento do Modernismo, transformou-se em verdadeiro mártir da república das letras. O irreverente Oswald de Andrade injustamente rotulou Olavo Bilac (também eleito Príncipe dos Poetas
Brasileiros) e Coelho Neto como “duas remotas alimárias.” A Semana de Arte Moderna rompeu com tudo o que Coelho Neto representava: respeito à tradição, exagero na utilização da língua culta, caracterizada por uma retórica pontilhada de riquíssimo e estonteante vocabulário. Em conversa com Humberto de Campos, revela Coelho Neto que cada vez mais se apaixonava pelo estudo da língua e, especialmente, da língua castiça de Camilo Castelo Branco. O vocabulário do escritor português caracterizava-se, segundo o historiador literário Joaquim Ferreira, por uma “florescentíssima abundância, parecendo inesgotável o número de suas locuções vernáculas e populares”.
Nesta mesma linhagem, cambiada no tempo, é vista a obra barroca e neorregionalista de Guimarães Rosa, autor que escreveu, anos mais tarde, esta preciosidade, ao reconhecer o vigor do estilo do autor do Rei negro : “Coelho Neto amoroso pastor da turbamulta das
palavras.”
A imaginação de Coelho Neto era fértil e aproveitava os mais variados temas para a urdidura de seus romances e contos. Mas o grande diferencial do escritor foi, sem dúvida, a sua linguagem, que transitava com igual desenvoltura entre o resgate das construções coloquiais e as formas eruditas, matizando as suas frases do registro oral ao sermo nobilis. O colorido e a eficácia artística de sua prosa, como a de Euclides da Cunha, representa, ainda hoje, uma garantia de perpetuação da nossa língua e da nossa cultura, elementos considerados fortemente identitários de um povo.

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Em seu Anedotário da Academia Brasileira Josué Montello registra a confissão de Coelho Neto a um jornal do Rio de Janeiro ao afirmar que, entre seus romances, novelas, contos e crônicas ele já publicara 580 títulos. Esta dedicação à literatura, e principalmente a qualidade de sua obra, tornaram-no um de nossos mais importantes ficcionistas em atividade entre o final do século XIX e os inícios do XX. Eleito Príncipe dos Prosadores Brasileiros, Coelho Neto conheceu um período de glória literária mas, com o advento do Modernismo, transformou-se em verdadeiro mártir da república das letras. O irreverente Oswald de Andrade injustamente rotulou Olavo Bilac (também eleito Príncipe dos Poetas
Brasileiros) e Coelho Neto como “duas remotas alimárias.” A Semana de Arte Moderna rompeu com tudo o que Coelho Neto representava: respeito à tradição, exagero na utilização da língua culta, caracterizada por uma retórica pontilhada de riquíssimo e estonteante vocabulário. Em conversa com Humberto de Campos, revela Coelho Neto que cada vez mais se apaixonava pelo estudo da língua e, especialmente, da língua castiça de Camilo Castelo Branco. O vocabulário do escritor português caracterizava-se, segundo o historiador literário Joaquim Ferreira, por uma “florescentíssima abundância, parecendo inesgotável o número de suas locuções vernáculas e populares”.
Nesta mesma linhagem, cambiada no tempo, é vista a obra barroca e neorregionalista de Guimarães Rosa, autor que escreveu, anos mais tarde, esta preciosidade, ao reconhecer o vigor do estilo do autor do Rei negro : “Coelho Neto amoroso pastor da turbamulta das
palavras.”
A imaginação de Coelho Neto era fértil e aproveitava os mais variados temas para a urdidura de seus romances e contos. Mas o grande diferencial do escritor foi, sem dúvida, a sua linguagem, que transitava com igual desenvoltura entre o resgate das construções coloquiais e as formas eruditas, matizando as suas frases do registro oral ao sermo nobilis. O colorido e a eficácia artística de sua prosa, como a de Euclides da Cunha, representa, ainda hoje, uma garantia de perpetuação da nossa língua e da nossa cultura, elementos considerados fortemente identitários de um povo.

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