O Testemunho Na Literatura

Os textos giram em torno do tema teórico maior, o testemunho, e de como essa perspectiva testemunhal se faz presente, sobretudo na literatura

Pensar o que há de testemunho na literatura significa, a um só tempo, pensar as intrincadíssimas teias entre verdade e ficção, entre ética e estética, entre história e forma.

E é justo este propósito que irmana os textos da coletânea que se tem em mãos: são ensaios em torno do tema teórico maior, ou seja, o testemunho, e de como esta perspectiva testemunhal se faz presente, sobretudo, na literatura e na cultura brasileira (a partir de análises de obras dos poetas João Cabral, Ferreira Gullar, Cacaso, Paulo Leminski e Chacal, de canções de Raul Seixas, de narrativas como Estação Carandiru e O que é isso, companheiro?, de Dráuzio Varella e Fernando Gabeira, e do romance capixaba As chamas na missa, de Luiz Guilherme Santos Neves), além de incursões em textos de autores sobremaneira importantes, como o português José Saramago e seu alegórico O ano de 1993, o sueco Art Spiegelman e sua rememoração via Maus, e o italiano Primo Levi e seu melancólico relato É isto um homem?.

A noção fundadora, e sem dúvida mais ortodoxa, de testemunho vem da chamada “literatura do Holocausto”, emblematizada pelos relatos de sobreviventes da Segunda Guerra Mundial.

Dentre esses relatos, sobressaem-se a contundente narrativa de Primo Levi e a densa poesia de Paul Celan, tendo ambos os autores se suicidado décadas depois (em 1987 e 1970, respectivamente) do final da guerra de 1945. Na América Latina, ganhou significativo relevo a sofrida história da índia e camponesa guatemalteca Rigoberta Menchú, Nobel da Paz em 1992, cujo depoimento foi transcrito e editado pela antropóloga venezuelana Elizabeth Burgos.

Aqui no Brasil, a ditadura militar que principia com o golpe de 64 inspirou, a contrapelo, toda uma produção que, baralhando memória e ficção, registrou as agruras deste período plúmbeo, cujos tons começaram a suavizar apenas a partir de 1979, com o fim oficial em 31/12/1978 do AI-5 decretado em 13/12/1968. Bastante representativo desta vertente é o supracitado livro do então jornalista Fernando Gabeira.

Retroagindo-se no tempo, poder-se-ia elencar como exemplo de prosa de testemunho as Memórias do cárcere, de Graciliano Ramos, e mesmo Os sertões, de Euclides da Cunha; e, ao contrário, em direção ao nosso presente pretensamente mais justo e democrático exemplos de textos com “teor testemunhal” (para recuperar sucinta e precisa expressão cara a Márcio Seligmann-Silva) seriam Capão pecado, de Ferréz, ou Cidade de Deus, de Paulo Lins, além do livro de Varella.

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Os textos giram em torno do tema teórico maior, o testemunho, e de como essa perspectiva testemunhal se faz presente, sobretudo na literatura

Pensar o que há de testemunho na literatura significa, a um só tempo, pensar as intrincadíssimas teias entre verdade e ficção, entre ética e estética, entre história e forma.

E é justo este propósito que irmana os textos da coletânea que se tem em mãos: são ensaios em torno do tema teórico maior, ou seja, o testemunho, e de como esta perspectiva testemunhal se faz presente, sobretudo, na literatura e na cultura brasileira (a partir de análises de obras dos poetas João Cabral, Ferreira Gullar, Cacaso, Paulo Leminski e Chacal, de canções de Raul Seixas, de narrativas como Estação Carandiru e O que é isso, companheiro?, de Dráuzio Varella e Fernando Gabeira, e do romance capixaba As chamas na missa, de Luiz Guilherme Santos Neves), além de incursões em textos de autores sobremaneira importantes, como o português José Saramago e seu alegórico O ano de 1993, o sueco Art Spiegelman e sua rememoração via Maus, e o italiano Primo Levi e seu melancólico relato É isto um homem?.

A noção fundadora, e sem dúvida mais ortodoxa, de testemunho vem da chamada “literatura do Holocausto”, emblematizada pelos relatos de sobreviventes da Segunda Guerra Mundial.

Dentre esses relatos, sobressaem-se a contundente narrativa de Primo Levi e a densa poesia de Paul Celan, tendo ambos os autores se suicidado décadas depois (em 1987 e 1970, respectivamente) do final da guerra de 1945. Na América Latina, ganhou significativo relevo a sofrida história da índia e camponesa guatemalteca Rigoberta Menchú, Nobel da Paz em 1992, cujo depoimento foi transcrito e editado pela antropóloga venezuelana Elizabeth Burgos.

Aqui no Brasil, a ditadura militar que principia com o golpe de 64 inspirou, a contrapelo, toda uma produção que, baralhando memória e ficção, registrou as agruras deste período plúmbeo, cujos tons começaram a suavizar apenas a partir de 1979, com o fim oficial em 31/12/1978 do AI-5 decretado em 13/12/1968. Bastante representativo desta vertente é o supracitado livro do então jornalista Fernando Gabeira.

Retroagindo-se no tempo, poder-se-ia elencar como exemplo de prosa de testemunho as Memórias do cárcere, de Graciliano Ramos, e mesmo Os sertões, de Euclides da Cunha; e, ao contrário, em direção ao nosso presente pretensamente mais justo e democrático exemplos de textos com “teor testemunhal” (para recuperar sucinta e precisa expressão cara a Márcio Seligmann-Silva) seriam Capão pecado, de Ferréz, ou Cidade de Deus, de Paulo Lins, além do livro de Varella.

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