Tendo examinado inúmeros estudos sobre a corrupção política no Brasil e em todo o mundo – nos países europeus, Inglaterra sobretudo, Estados Unidos, Japão etc, etc, etc, e em todas as épocas, o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos assegura: em todos os estudos “está o tema de que a política muda de qualidade com a entrada de novas classes sociais no jogo político. Não é razoável admitir, contudo, que a corrupção só ingresse na vida pública pelas mãos da burguesia, primeiro, e das classes populares, posteriormente. Os volumes oferecem material de sobra sobre os esquemas de corrupção nos períodos aristocráticos e oligárquicos, de todos os países investigados. Ocorre que, antes, os processos de corrupção se davam nas disputas entre membros do mesmo grupo social e ninguém promovia escândalo, preservando a face externa da classe.
Assim como a nossa Primeira República, durante a qual pouquíssimos foram os escândalos de corrupção denunciados no parlamento ou fora dele. De fato, a porca torce o rabo é quando aparecem outros sócios, sem pedigree. Comerciantes novos ricos, capitães da indústria abiscoitando contratos, isenções, licenças fiscais. E dá ainda uma segunda volta no rabicho quando chega a vez da turma de macacão reclamando a sua parte. Aí, é verdade, foi demais para a paciência aristocrática e oligárquica. O que seria da eficiência do Estado, exposto às demandas ou eventuais atividades predatórias daquele bando? Onde iria parar a ética na mão daqueles grosseirões semianalfabetos? ”
Este texto, publicado em maio de 2007 no jornal Valor Econômico sob o título “Há espaço para todo mundo na corrupção”, foi republicado no livro A margem do abismo: conflitos na política brasileira, lançado pela Editora Revan, e que reúne artigos, ensaios e entrevistas do autor, Wanderley Guilherme dos Santos, publicados entre 2002 e 2015 em jornais, revistas, blogs etc.
Wanderley Guilherme dos Santos é, sem dúvida, o decano dos comentaristas políticos brasileiros. Formado em ciência política em 1958, na então Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil [hoje UFRJ], foi autor (em 1962) do clássico “instantâneo” Quem Dará o Golpe no Brasil, publicado na coleção Cadernos do Povo Brasileiro, dirigida por Álvaro Vieira Pinto e Ênio Silveira (Editora Civilização Brasileira).
Aquele rapaz de apenas 27 anos de idade gabaritou-se para ser um dos mais atentos, e ousados, entre os observadores da cena política brasileira.
À Margem Do Abismo: Conflitos Na Política Brasileira
- Ciências Sociais, Comunicação, Economia
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