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Este livro traz um estudo sobre a presença e o tratamento de aspectos da estética melodramática e de suas funções estéticas e críticas no romance latino-americano do pós-boom.
Centra-se nos aspectos escriturais identificados com essa estética, herdados especialmente a partir do romance-folhetim e do cinema – ainda que, por vezes, também tenha sido mediado pelo rádio – e apropriados na constituição dos romances que analisamos, bem como em seus desenvolvimentos e transformações literários operados nas décadas finais do século XX e neste início de século XXI, em meio ao processo crescente de ação da insdústria cultural sobre os indivíduos e o tecido social.
Uma das primeiras questões que este trabalho pode suscitar ao leitor e ao crítico especializados é a própria escolha de “pós-boom” como categoria ou conceito para englobar o conjunto de romances considerados neste estudo.
Isso porque, por um lado, os romances que podem ser associados ao pós-boom são muito variados em suas tendências temático-formais, que abarcam desde vertentes que dialogam amplamente com a cultura de massa a outras influenciadas pelo neorraboco, além de narrativas críticas da própria ficção e da história latino-americanas.
O termo “pós-boom” pode conotar certa imprecisão, na medida em que, por vezes, poderíamos reunir sob essa mesma rubrica escritores tão diferentes como, por exemplo, Manuel Puig, Isabel Allende e Severo Sarduy. Por outro lado, ao ligar-se à própria noção de boom, o pós-boom torna-se um conceito ligado ao mercado e à comercialização de obras literárias, ultrapassando os limites do literário.
Além disso, o termo mostra-se impreciso ao não deixar claro até quando se estende, historicamente. No entanto, nossa escolha deveu-se a razões práticas e metodológicas que tornaram o termo “pós-boom” operacional.
Pois neste trabalho nos preocupamos mais em descrever e analisar o conjunto de textos literários pertinentes ao estudo dos aspectos da estética melodramática presentes em sua constituição do que em teorizar superficialmente questões que, por vezes já debatidas, não se constituem em nosso objetivo fundamental, como literatura e mercado, valor e gosto, ainda que, por vezes, não possamos desconsiderá-las totalmente.
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