
Desconversa traz ensaios sobre temas centrais da literatura brasileira, além de textos sobre Borges, Euclides da Cunha, Clarice Lispector, Guimarães Rosa, Mário de Andrade, entre outros, bem como sobre a formação educacional no Brasil e sobre as tarefas do crítico.
As qualidades condensadas nesse ensaio se encontram em toda a produção de Walnice, que vai do levantamento paciente e minucioso de No calor da hora (sua tese de livre docência), ou do rigor incansável que esgota o assunto na edição crítica d’Os sertões, até as engenhosas conjeturas críticas da tese de doutorado (As formas do falso) e tantos ensaios reunidos sob títulos despretensiosos (como Saco de gatos).
Ela é uma estudiosa tenaz e obstinada, que não se satisfaz com os achados da sensibilidade e da inteligência, mas procura a cada passo inseri-los na verificação, na comprovação, na demonstração trabalhosa, que parece não obstante ao leitor conclusão leve e espontânea. Um conhecimento seguro expresso com a estratégia da elegância.
Essa firmeza com flexibilidade se encontra em Desconversa, que mostra além disso a versatilidade da autora. Nem todos os críticos são versáteis, e alguns se caracterizam por aplicar metros invariáveis com os quais medem os textos, rejeitando os que ultrapassam ou não alcançam a medida. José Veríssimo foi um pouco assim, e assim foi o Alceu Amoroso Lima dos anos de 1930.
Mas como a obra literária é “ondulante e vária”, são mais universais os capazes de esposar da maneira mais ampla possível a variedade infinita dos textos. É o caso de Walnice, como este livro comprova.
Desconversa parece uma demonstração das diferentes tarefas do crítico, e por esse lado é uma verdadeira lição. Aqui, tanto o leitor desinteressado quanto o profissional aprendiz podem entrar em contacto com diversos aspectos do nosso trabalho: levantamento, demonstração por meio de trechos escolhidos, estudo de gênero, análise temática, investigação sobre a linguagem de autor, comparação, interpretação e até política cultural. Ao abrir o leque de suas capacidades, Walnice vai assumindo os diferentes papéis que integram a personalidade intelectual do crítico, e o faz por meio de ensaios mais simples e ensaios mais complexos.
