
No capítulo 75 de Summing up, como o próprio nome diz, uma súmula autobiográfica, publicada pela primeira vez em 1938, Somerset Maugham anota que, para compensar a impossibilidade de aceitar a falta de sentido da vida, a sabedoria dos tempos selecionou três valores de duração mais permanente, procurando dar assim algum significado à existência.
Esses valores são a Verdade, a Beleza e a Bondade.
“Mesmo que não se possa duvidar de que tenham uma utilidade biológica”, escreve o autor, “eles se apresentam com tal aparência de desinteresse que o homem tem a ilusão de que através deles pode escapar da servidão humana.”
O romance Servidão Humana, que começou a ser escrito em 1911 quando Somerset Maugham tinha 37 anos e foi publicado em 1915, é, de certa forma, a narrativa da demonstração desses valores através das fases de opressão e de libertação por que passa e evolui a trajetória de vida do jovem Philip Carey.
Essa trajetória do herói aprendiz da vida e da liberdade tem muito a ver com a biografia do autor, embora não seja ela inteiramente calcada nos acontecimentos que cercaram sua existência. Por isso, no Prefácio, a advertência ao leitor de que não se trata de uma autobiografia, mas de um romance autobiográfico, em que se misturam fatos e ficção de modo inextricável.
Assim, muitos dos acontecimentos que marcam a vida do herói do romance reproduzem, na ficção, a realidade da vida do autor, como, por exemplo, a experiência da morte dos pais muito cedo, na infância, a vida na casa dos tios profissionalmente religiosos, órfãos de filhos, como ele órfão de pais, a força desses acontecimentos, em particular o da perda da mãe, que os marcaria, autor e personagem, para sempre.
Servidão Humana é também uma resposta a essa pergunta-enigma e o encontro de Philip Carey com a revelação que ela traz é uma forma de libertação da condição de escravidão metafísica do ser humano diante da vida e de seus mistérios.
A resposta, leve e simples na forma, é densa e pesada no conteúdo, sobretudo porque afirma a existência de conteúdo nenhum. Mas é a forma suprema da libertação do homem do fardo de sua responsabilidade em encontrar na vida um sentido para a própria vida.











