Contos E Novelas

De Voltaire se disse, a um tempo, todo o bem e todo o mal possíveis. Chamaram-no “ginasiano moleque”, estigmatizaram-lhe o egoísmo burguês, a avareza, a cobiça: “Anda sempre a cavaleiro do Parnaso e da rua Quincampoix”, observavam.

De sua filosofia se afirmou ser um “caos de idéias claras” (Faguet) e a marquesa de Charost deparava nele com um ar de loucura: “Raciocinando sem princípio, sua razão tem acessos, como a loucura dos outros”. Entretanto, ele angariou tantos admiradores apaixonados quantos detratores exaltados. As contradições do seu pensamento atenuam-se, dizem os admiradores, se é que não desaparecem por completo, quando se estudam os textos filosóficos na sua ordem cronológica. Se Voltaire foi por vezes avaro, foi também generoso. Foi duro com seus inimigos e terno com seus amigos; e o fato de ter amado a glória não o impediu de abandonar o Parnaso para defender a causa dos infelizes e lutar contra todas as injustiças. Uns e outros, admiradores e detratores, têm razão. Tentemos pintar Voltaire com fidelidade e pintá-lo em toda a sua complexidade, com as luzes e as sombras.
O que nos impressiona de imediato nele é a sua universalidade. Seus inimigos motejavam-no. Piron assesta-lhe um epigrama acerca da mania de tudo ventilar apressadamente:
A Enciclopédia é sua tabuleta.
Que desejais? Inglês, toscano,
verso, prosa, álgebra, comédia, ópera,
poema épico, história, ode ou romance?
Dizei. Pronto...
Pois que ambiciona refazer o mundo
e refazê-lo em menos de semana.
Seus amigos, ao contrário, louvavam-lhe a riqueza do talento. Mas a versatilidade, como vemos, atordoava uns e outros. Frederico ii escreve a seu ilustre missivista de Paris: “Duvido que haja um Voltaire no mundo: construí um sistema para negar-lhe a existência. Não, por certo, não é um homem só que faz o trabalho prodigioso atribuído ao sr. de Voltaire. Há em Cirey filósofos que traduzem Newton, há poetas heróicos, há Corneilles, Catulos, Tucídides, e a obra dessa academia se publica sob o nome de Voltaire, tal qual os feitos de todo um exército se atribuem ao chefe que o comanda”.

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De Voltaire se disse, a um tempo, todo o bem e todo o mal possíveis. Chamaram-no “ginasiano moleque”, estigmatizaram-lhe o egoísmo burguês, a avareza, a cobiça: “Anda sempre a cavaleiro do Parnaso e da rua Quincampoix”, observavam. De sua filosofia se afirmou ser um “caos de idéias claras” (Faguet) e a marquesa de Charost deparava nele com um ar de loucura: “Raciocinando sem princípio, sua razão tem acessos, como a loucura dos outros”. Entretanto, ele angariou tantos admiradores apaixonados quantos detratores exaltados. As contradições do seu pensamento atenuam-se, dizem os admiradores, se é que não desaparecem por completo, quando se estudam os textos filosóficos na sua ordem cronológica. Se Voltaire foi por vezes avaro, foi também generoso. Foi duro com seus inimigos e terno com seus amigos; e o fato de ter amado a glória não o impediu de abandonar o Parnaso para defender a causa dos infelizes e lutar contra todas as injustiças. Uns e outros, admiradores e detratores, têm razão. Tentemos pintar Voltaire com fidelidade e pintá-lo em toda a sua complexidade, com as luzes e as sombras.
O que nos impressiona de imediato nele é a sua universalidade. Seus inimigos motejavam-no. Piron assesta-lhe um epigrama acerca da mania de tudo ventilar apressadamente:
A Enciclopédia é sua tabuleta.
Que desejais? Inglês, toscano,
verso, prosa, álgebra, comédia, ópera,
poema épico, história, ode ou romance?
Dizei. Pronto…
Pois que ambiciona refazer o mundo
e refazê-lo em menos de semana.
Seus amigos, ao contrário, louvavam-lhe a riqueza do talento. Mas a versatilidade, como vemos, atordoava uns e outros. Frederico ii escreve a seu ilustre missivista de Paris: “Duvido que haja um Voltaire no mundo: construí um sistema para negar-lhe a existência. Não, por certo, não é um homem só que faz o trabalho prodigioso atribuído ao sr. de Voltaire. Há em Cirey filósofos que traduzem Newton, há poetas heróicos, há Corneilles, Catulos, Tucídides, e a obra dessa academia se publica sob o nome de Voltaire, tal qual os feitos de todo um exército se atribuem ao chefe que o comanda”.

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