
A prisão definitivamente é uma instituição complexa, na qual as múltiplas experiências, práticas e valores humanos se produzem de maneira intermitente, por vezes intensa, “conflitual1”, paradoxal. Sua existência emerge como tentativa moderna de exercer controle, de punir os indivíduos responsáveis por práticas de violência social consideradas graves e cujo descontrole poderia comprometer a existência da ordem social.
Sua complexidade se revela na pluralidade de sujeitos sociais que a compõem e, por conseguinte, nos distintos papéis sociais que ali exercem cotidianamente. Entre seus protagonistas, estão os que lá são mantidos compulsoriamente, dentre os quais muitos sonham com o dia no qual o vento que sopra além dos portões e muros possa ser frescor em suas existências. Há igualmente os que lá trabalham para manter limites sobre aquilo que se indica como um dos “bens” mais preciosos da vida humana, a liberdade.
As relações que esses sujeitos estabelecem entre si sintetizam a vivacidade que se produz diuturnamente no interior da instituição. Ali, a tensão se apresenta com latência perene, em que os conflitos constantes podem, a qualquer instante, ganhar contornos de violência física e simbólica, gerando destruição. Georg Simmel observou em um dos seus instigantes ensaios que o conflito permeia as relações humanas como elemento constituinte da vida em sociedade. Portanto, o conflito não é um incidente, uma imprevisibilidade, um evento fortuito, fruto do acaso. Ao contrário, ele é basilar na configuração das relações humanas.
Embora esteja na base das relações, sua emergência é resultado de motivações plurais que concorrem para seu surgimento. E, como fenômeno sociológico, ele traz em si uma dupla potencialidade, de destruir dada realidade e de criar condições para fazer emergir novos arranjos sociais, a partir das transformações produzidas no processo “conflitual”.
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