O Homem Desenraizado

Durante muito tempo, acordei aos sobressaltos. Os detalhes se diferenciavam, mas, em linhas gerais, o sonho era sempre o mesmo. Eu não estava mais em Paris, mas em minha cidade natal, Sófia

; havia voltado ali por uma razão qualquer e experimentava a alegria de rever os velhos amigos, meus pais, meu quarto. A seguir vinha o momento da partida, do retorno a Paris, e as coisas começavam a se desfigurar.
Já estava dentro do tramway que deveria conduzir-me à estação (é o trem, o Expresso Oriente, que, anos antes, havia me levado de Sófia para atirar-me dois dias mais tarde, em uma fria manhã de abril, nas plataformas da estação de Lyon) quando descobri que a passagem não estava no bolso; sem dúvida, eu a havia esquecido em casa, mas se voltasse para procurá-la iria perder o trem. Ou então o tramway parava de repente por causa de um tumulto inexplicável; os passageiros desciam, eu também. Tentava abrir caminho, com uma pesada mala na mão, mas era impossível: a multidão era compacta, indiferente, impenetrável. Ou, ainda, o tramway chegava à estação, eu me precipitava em direção à porta de entrada porque estava atrasado, mas, atravessado o umbral, descobria que aquela estação era apenas um cenário: do outro lado não havia hall, viajantes, trilhos, trens; não, eu estava só diante de um campo, a perder de vista, a erva amarelada dobrava-se ao vento.
Ou então eu deixava a casa em um carro dirigido por um amigo; ele decidia pegar um atalho, porque estávamos com pressa, mas se perdia, as ruas se estreitavam, tornavam-se cada vez mais desertas, para terminar em terrenos baldios.
Meus sonhos nunca paravam de inventar novas variantes para esta impossibilidade de partir novamente, mas o resultado final era sempre o mesmo: por razões puramente fortuitas, o retorno a Paris confirmava-se impossível. Eu deveria doravante viver em Sófia. A angústia, mesmo em sonho, tornava-se tamanha que eu acordava com o coração acelerado.
Abria os olhos na penumbra e reconhecia pouco a pouco os contornos do quarto parisiense, tocava o ombro de minha mulher, que dormia a meu lado, e entregava-me com prazer à realidade. Havia sido apenas um sonho! Eu podia me levantar e reencontrar minha vida, minha verdadeira vida. Esquecia os temores noturnos até a próxima ocasião, algumas semanas, alguns meses depois. Compreendi depois que este sonho era comum a muitos imigrantes, ao menos entre aqueles que vinham do Leste europeu.

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Durante muito tempo, acordei aos sobressaltos. Os detalhes se diferenciavam, mas, em linhas gerais, o sonho era sempre o mesmo. Eu não estava mais em Paris, mas em minha cidade natal, Sófia; havia voltado ali por uma razão qualquer e experimentava a alegria de rever os velhos amigos, meus pais, meu quarto. A seguir vinha o momento da partida, do retorno a Paris, e as coisas começavam a se desfigurar.
Já estava dentro do tramway que deveria conduzir-me à estação (é o trem, o Expresso Oriente, que, anos antes, havia me levado de Sófia para atirar-me dois dias mais tarde, em uma fria manhã de abril, nas plataformas da estação de Lyon) quando descobri que a passagem não estava no bolso; sem dúvida, eu a havia esquecido em casa, mas se voltasse para procurá-la iria perder o trem. Ou então o tramway parava de repente por causa de um tumulto inexplicável; os passageiros desciam, eu também. Tentava abrir caminho, com uma pesada mala na mão, mas era impossível: a multidão era compacta, indiferente, impenetrável. Ou, ainda, o tramway chegava à estação, eu me precipitava em direção à porta de entrada porque estava atrasado, mas, atravessado o umbral, descobria que aquela estação era apenas um cenário: do outro lado não havia hall, viajantes, trilhos, trens; não, eu estava só diante de um campo, a perder de vista, a erva amarelada dobrava-se ao vento.
Ou então eu deixava a casa em um carro dirigido por um amigo; ele decidia pegar um atalho, porque estávamos com pressa, mas se perdia, as ruas se estreitavam, tornavam-se cada vez mais desertas, para terminar em terrenos baldios.
Meus sonhos nunca paravam de inventar novas variantes para esta impossibilidade de partir novamente, mas o resultado final era sempre o mesmo: por razões puramente fortuitas, o retorno a Paris confirmava-se impossível. Eu deveria doravante viver em Sófia. A angústia, mesmo em sonho, tornava-se tamanha que eu acordava com o coração acelerado.
Abria os olhos na penumbra e reconhecia pouco a pouco os contornos do quarto parisiense, tocava o ombro de minha mulher, que dormia a meu lado, e entregava-me com prazer à realidade. Havia sido apenas um sonho! Eu podia me levantar e reencontrar minha vida, minha verdadeira vida. Esquecia os temores noturnos até a próxima ocasião, algumas semanas, alguns meses depois. Compreendi depois que este sonho era comum a muitos imigrantes, ao menos entre aqueles que vinham do Leste europeu.

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