O Eleito
– Nesta fábula, o herói é o santo que denuncia a necessidade perversa do pecado no círculo cristão. Todo o homem, nascido do pecado original, entre as fezes e as urinas (Santo Agostinho), e do âmnio terrivelmente carnal, tem a possibilidade e o dever de se redimir e de se elevar espiritualmente ao divino, consagrando o estatuto de semi-deidade que lhe é competido neste mundo.
Thomas Mann revela aqui uma penetração da ideologia cristã e dos profundos mitos humanos, traumáticos e pujantes.
Gregório é um jovem de origem nobre, fruto de um relacionamento incestuoso, que foi entregue à própria sorte logo após o nascimento. Criado por um monge em uma ilha onde recebe educação religiosa em um mosteiro, aos dezessete anos descobre sua origem e decide procurar os pais.
A partir de então, ansioso por partilhar assuntos divinos, embora consciente de ser resultado de uma ligação pecaminosa, vive uma série de aventuras, revelações e sofrimentos que transformarão sua vida, até o final e surpreendente momento de sua aproximação com Deus.
Thomas Mann, um dos maiores gênios da literatura, presenteia o leitor com um personagem que traz em si a dialética filosófica com a qual irá debater-se no decorrer da história — o estigma do incesto e do pecado como empecilhos ao desenvolvimento moral —, sempre em busca da afirmação da independência do espírito.
Gregório, que simboliza essencialmente o pecado e sua remissão, em termos humanos também representa a busca de identidade e a tentativa árdua de ser feliz, um ser humano que sonha em ser cavaleiro e acredita que um título de nobreza poderá trazer-lhe a felicidade. Mais uma vez, porém, Thomas Mann mostra que aquilo que se busca nem sempre é encontrado na forma esperada…
O Eleito é uma história belíssima, que demonstra os conflitos humanos no caminho da evolução moral e espiritual. Uma leitura imprescindível a todos aqueles que desejam conhecer um pouco mais o coração humano e suas fascinantes idiossincrasias.