O Espetáculo Passageiro

O autor decidiu chamar este livro de O Espetáculo Passageiro, por acreditar que o melhor simulacro desta nossa viagem existencial é a arte dramática.

Tarcísio Gurgel situa-se entre aqueles memorialistas com força suficiente para botar de pé um mundo antigo. Deu-nos mostra de tal capacidade em Inventário do Possível (2015), livro admirável sob tantos aspectos.

Agora, poucos anos depois, volta à carga com esta segunda parte, O Espetáculo Passageiro, recuperando sobretudo os seus idos da adolescência e da juventude.

Há entre os dois volumes, pois, um sentido de continuidade das recordações, circunstância por sinal inerente aos autores que se lançam a empreitadas de tal natureza, marcadas por obras sucessivas, deixando claro aos leitores que buscam edificar um passado pessoal e coletivo por meio de elaboração paciente, contumaz, desejosa de revivificar e preservar as experiências da vida pregressa.

Sobre um sentido de continuidade assim referido, não é difícil perceber que nossa literatura de cunho memorialístico mostra-se há um bom tempo capaz de apresentar inúmeros exemplos dessas sequências, bastando lembrar autores da importância de um Gilberto Amado, um Afonso Arinos de Melo Franco ou um Pedro Nava.

São homens que produziram memórias copiosas, em vários volumes, aptas a retratar em profundidade o mundo que lhes foi dado viver.

Com os dois livros publicados, Tarcísio Gurgel demonstra capacidade de avançar na tarefa, tem fôlego para ir adiante e quem sabe venha mesmo a repetir o feito de alguns desses antecessores.

Seja como for, Tarcísio – é preciso dizer desde logo – encontra-se já incorporado à boa tradição do memorialismo norte-rio-grandense, que nos legou nomes de relevo, como os de, entre outros, Luís da Câmara Cascudo, Magdalena Antunes e Inácio Magalhães de Sena.

E, claro, incorporado também ao memorialismo nacional, que, além daqueles acima citados, ostenta figuras do porte de Joaquim Nabuco, Helena Morley, Graciliano Ramos, Augusto Meyer, Oswald de Andrade, Cyro dos Anjos, Nelson Rodrigues.

Tradição, vê-se de imediato, mais que respeitável, a indicar um consolidado amadurecimento do gênero no âmbito da literatura brasileira.

Penso que uma característica decisiva desses escritos autobiográficos de Tarcísio advém de seu olhar poético sobre a existência. Sob uma perspectiva assim, ele marcaria passo com aqueles autores que envolvem suas reminiscências com uma aura lírica, recolhendo a realidade do mundo no âmbito da própria subjetividade e daí extraindo os significados mais essenciais da matéria recordada.

Em outras palavras, estamos diante de um memorialista que nos remete
a um sentimento profundo, exemplarmente manifesto nos termos de Carlos Drummond de Andrade no primeiro poema de seu primeiro livro publicado: “Mundo mundo vasto mundo,/ mais vasto é meu coração” (Poema de sete faces, in Alguma poesia). Eis a sensação dominante que ressuma das belas páginas de Tarcísio.

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O Espetáculo Passageiro

O autor decidiu chamar este livro de O Espetáculo Passageiro, por acreditar que o melhor simulacro desta nossa viagem existencial é a arte dramática.

Tarcísio Gurgel situa-se entre aqueles memorialistas com força suficiente para botar de pé um mundo antigo. Deu-nos mostra de tal capacidade em Inventário do Possível (2015), livro admirável sob tantos aspectos.

Agora, poucos anos depois, volta à carga com esta segunda parte, O Espetáculo Passageiro, recuperando sobretudo os seus idos da adolescência e da juventude.

Há entre os dois volumes, pois, um sentido de continuidade das recordações, circunstância por sinal inerente aos autores que se lançam a empreitadas de tal natureza, marcadas por obras sucessivas, deixando claro aos leitores que buscam edificar um passado pessoal e coletivo por meio de elaboração paciente, contumaz, desejosa de revivificar e preservar as experiências da vida pregressa.

Sobre um sentido de continuidade assim referido, não é difícil perceber que nossa literatura de cunho memorialístico mostra-se há um bom tempo capaz de apresentar inúmeros exemplos dessas sequências, bastando lembrar autores da importância de um Gilberto Amado, um Afonso Arinos de Melo Franco ou um Pedro Nava.

São homens que produziram memórias copiosas, em vários volumes, aptas a retratar em profundidade o mundo que lhes foi dado viver.

Com os dois livros publicados, Tarcísio Gurgel demonstra capacidade de avançar na tarefa, tem fôlego para ir adiante e quem sabe venha mesmo a repetir o feito de alguns desses antecessores.

Seja como for, Tarcísio – é preciso dizer desde logo – encontra-se já incorporado à boa tradição do memorialismo norte-rio-grandense, que nos legou nomes de relevo, como os de, entre outros, Luís da Câmara Cascudo, Magdalena Antunes e Inácio Magalhães de Sena.

E, claro, incorporado também ao memorialismo nacional, que, além daqueles acima citados, ostenta figuras do porte de Joaquim Nabuco, Helena Morley, Graciliano Ramos, Augusto Meyer, Oswald de Andrade, Cyro dos Anjos, Nelson Rodrigues.

Tradição, vê-se de imediato, mais que respeitável, a indicar um consolidado amadurecimento do gênero no âmbito da literatura brasileira.

Penso que uma característica decisiva desses escritos autobiográficos de Tarcísio advém de seu olhar poético sobre a existência. Sob uma perspectiva assim, ele marcaria passo com aqueles autores que envolvem suas reminiscências com uma aura lírica, recolhendo a realidade do mundo no âmbito da própria subjetividade e daí extraindo os significados mais essenciais da matéria recordada.

Em outras palavras, estamos diante de um memorialista que nos remete
a um sentimento profundo, exemplarmente manifesto nos termos de Carlos Drummond de Andrade no primeiro poema de seu primeiro livro publicado: “Mundo mundo vasto mundo,/ mais vasto é meu coração” (Poema de sete faces, in Alguma poesia). Eis a sensação dominante que ressuma das belas páginas de Tarcísio.

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