
Nessa breve incursão às utopias da modernidade, literárias ou práticas, buscando em seus recantos o que ali se encontra de elaboração de ideias sobre o trabalho, associaram-se duas preocupações que se constituem em perspectivas disciplinares: de um lado, a história social e sociológica do trabalho e, de outro, a história do conceito de utopia.
Nos tempos modernos, no mundo da produção como no plano das análises das ciências humanas e em seu elo político e moral, a categoria do trabalho se tornou central, de modo coerente com a identidade da sociedade chamada industrial, que tomou sua denominação da forma de produção e trabalho historicamente existente.
Por outro lado, essa mesma época da história das civilizações, especialmente no ocidente, é das mais ricas na produção de utopias, ou seja, de propostas de reforma radical da sociedade, a ponto de se poder dizer que a história da utopia está relacionada com o surgimento do que se chamou de era moderna e com a dinâmica tecnologia que a caracteriza; muito embora o sonho humano de um mundo perfeitamente organizado possa ser visto como um dado antropológico, e estivesse também presente em outras épocas e culturas, tal como se pode pensar a partir da leitura da República de Platão, na Antigüidade grega, ou da Cidade de Deus de Santo Agostinho, na Roma recém iniciada ao cristianismo.
A viagem deste livro começa, pois, pela Utopia, de Thomas More, na Inglaterra do século XVI; passa pela Cidade do Sol, de Tommaso Campanella, na Itália do século XVII; continua pela visita às sugestões para a organização do trabalho e da educação encontradas nas Considerações sobre o governo da Polônia, de Jean-Jacques Rousseau, na Europa iluminista do século XVIII; detém-se, a seguir, em O novo mundo industrial e societário de Charles Fourier, e vai terminar com o manifesto O direito à preguiça, de Paul Lafargue, esses dois últimos, na França do século XIX.
