
O livro é resultado da pesquisa feita durante dois anos pela antropóloga Soraya Simões na tradicional área de prostituição do Rio de Janeiro. De maneira lírica e ao mesmo tempo com rigor etnográfico, a autora descreve o cenário, as personagens e as sensações desse “mundo paralelo” ao turbulento Centro da cidade e compartilha histórias de um lugar onde a moralidade é um peso apenas fora de seus limites.
Ao conhecer esse cenário de modo mais profundo, o leitor poderá refletir melhor sobre essa prática tão antiga e polêmica, que é a prostituição.
A organização em torno da prostituição, as representações que suscita e que a conformam, o cotidiano que a envolve e expressa foram observados com perspicácia e método pela etnógrafa Soraya Silveira Simões no curioso território ao qual vieram finalmente aportar egressas, egressos, descendentes e continuadores da batalha que se travava às margens da Presidente Vargas e que recuou reduzida para uma vila da Joaquim Palhares antes de finalmente encontrar esse canto da cidade do Rio de Janeiro.
Para revelar o sentido da profissão, sua autora se detém na opção pela mesma, colhendo depoimentos e registrando episódios testemunhados como o do notável registro da mulher que chega, sem apoio e sem dinheiro, para avaliar a opção que ali se reserva para ela após um casamento de 30 anos.
Esta página é antológica e revela as possibilidades abertas pela etnografia. Longe dos didatismos redutores, explora as dimensões descritivas da cena e a gaucherie do personagem. Não se acompanha a decisão. Interrupta, a cena flagra a linha sinuosa que separa a puta da esposa.
O exemplo se tensiona com seu oposto, o exemplo solar de Gabriela da Silva Leite, com quem a etnógrafa trabalhou. Mas, enredada nos tais sistemas de valores que também orientam o antropólogo no campo, não há como recusar o contexto da dúvida e da ambiguidade moral na decisão da maioria.
