Silviano Santiago nos apresenta uma espécie de obra em progresso, em que a cada sábado o crítico convida o leitor para um novo passo rumo ao risco. Risco de escrever ainda sob o calor de suas leituras. Risco de comentar em espaço mínimo eventos complexos de uma produção cultural cada vez mais emaranhada em redes de saberes e poderes. Risco, enfim, de assumir o lugar exposto de crítico do contemporâneo em um jornal de grande circulação. Este livro, para além de sua superfície cristalina de escrita impecável e fluente, traz uma série de elementos que vale a pena desenvolver aqui de forma mais ampla.
Inicialmente, temos que pensar o livro de Silviano em seus aspectos sincrônicos e diacrônicos. No primeiro aspecto, temos o crítico que abraça a simultaneidade de tempos e espaços, amarrando discursos e suportes em arranjos próprios, muitas vezes ativados pela sua perspectiva interdisciplinar e intertextual. Já no aspecto do tempo contínuo e linear, Silviano não abre mão de nos fornecer, quando necessário, o fio condutor da história (seja da literatura, da política ou da arte) e sua marcha contínua entre um antes fundador e um depois em expansão, ambos mediados por um presente crítico dos dois extremos cronológicos. A força desse olhar reside justamente na percepção desse espaço de tensão que se forma entre esses dois aspectos. Sincronia e Diacronia informam o intelectual, estimulam o escritor e absorvem o leitor.
Do ponto de vista da origem dos textos aqui apresentados, é importante situarmos historicamente seu meio – o jornal impresso – para que possamos demarcar o lugar específico que Silviano ocupa no atual debate crítico brasileiro. Boa parte dos participantes deste debate carrega um consenso negativo sobre o espaço do pensamento crítico na imprensa. Vemos com frequência um pessimismo contagiante a respeito da produção de ideias e contribuições originais que tenham desdobramentos efetivos entre o interesse público. Tal perspectiva, muitas vezes, não esconde o exagero de seu tom apocalíptico e nos oferece um diagnóstico em que nada do que ocorre hoje tem serventia.
Aos Sábados, Pela Manhã: Sobre Autores & Livros
- Comunicação, Literatura
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