
Roland Barthes, logo na primeira página de seu belo ensaio, Escritores, intelectuais, professores, afirma um paradoxo: “é a fala, efêmera, que é indelével, não a escrita, monumental.”
O livro ao qual tenho o prazer de fazer anteceder estas palavras toca nesse paradoxo de uma maneira absolutamente original: pela via do efeito que a palavra do professor – falada e escrita – tem sobre o fazer do aluno para que este possa se instituir como sujeito no espaço escolar e, também, para além dele.
A teoria mobilizada pela professora Silvana é a teoria enunciativa de Émile Benveniste. Há, nesse ponto, uma grande originalidade. Benveniste não formulou, no conjunto de sua obra, nada que se assemelhe às considerações feitas aqui.
A originalidade, neste ponto, decorre, portanto, de uma leitura atenta do texto benvenistiano para depreender dele algo que – mesmo não explícito – ali estava em potencial. O livro de Silvana Silva ilumina a escrita de Benveniste, propõe novas interpretações para o já conhecido, resgata noções cujo sentido já havia se perdido no mar das repetições.
Então, caro leitor, anote: este livro traz uma contribuição significativa aos estudos enunciativos. De um lado, relendo a teoria pelo viés antropológico; de outro, deslocando-a para uma realidade nunca antes investigada sob esse olhar.
A proposta apresentada nos capítulos finais é outro ponto alto do livro. Nela, é possível encontrar a professora-pesquisadora em sua mais nobre função: fazendo de seu próprio contexto de ação o locus da pesquisa.
O leitor encontrará na terceira parte do livro uma verdadeira proposta de análise da escrita como um processo enunciativo. Nela, todas as considerações teóricas são operacionalizadas sem que, com isso, se perca o rigor da formulação conceitual.
Logo, como é fácil concluir, este livro também é inspirador do ponto de vista metodológico, uma vez que teoria e prática estão de tal maneira articulados que uma não teria razão de ser sem a outra.
O aparecimento deste livro tem, ainda, um outro valor: é uma tentativa séria e bem sucedida de fazer chegar ao professor a pesquisa feita nos bancos acadêmicos. Espero que ele sirva de exemplo para que outros pesquisadores façam o mesmo esforço.
É urgente diminuir o hiato – que não raras vezes parece intransponível – que há entre a Universidade e a sociedade. O livro da professora Silvana Silva é um incentivo a todos os que se engajam na busca de uma sociedade mais justa, mais igualitária.
