Shyima vivia em situação de pobreza com sua família no Egito. Quando tinha 8 anos, uma de suas irmãs mais velhas – empregada doméstica de um casal rico do Cairo – foi demitida por furto. Seus pais, então, fizeram um acordo com os ex-patrões da irmã: para pagar a dívida, Shyima ficaria no lugar dela. Assim iniciou sua escravidão. Os raptores de Shyima referiam-se a ela como “garota estúpida” e a forçavam a fazer de tudo como servente. O pouco dinheiro recebido em troca de seu trabalho era enviado diretamente a seus pais, com os quais Shyima passou a ter muito pouco contato. Dois anos depois, seus raptores mudaram-se para os Estados Unidos e Shyima foi levada ilegalmente com eles. As mais diversas formas de escravidão contemporânea são uma realidade terrível para milhares de adultos e crianças no mundo inteiro. Shyima foi uma dessas vítimas. Conheça sua trajetória inspiradora rumo à liberdade neste relato comovente.
Todo mundo tem um momento decisivo na vida. Para alguns, é o dia em que se casam ou em que têm um filho. Para outros, é quando finalmente atingem um objetivo muito almejado. Minha vida, no entanto, mudou drasticamente de rumo no dia em que meus pais me venderam como escrava. Eu tinha 8 anos.
Antes daquele dia fatídico, eu era uma criança normal de uma família grande em uma pequena cidade próxima a Alexandria, no Egito. Crescer em um bairro carente no Egito não é nada parecido com a vida que as crianças levam nos Estados Unidos. Minha família era bem pobre, como muitas na comunidade em que fui criada. Eu era a sétima de 11 filhos, alguns deles bem mais velhos. Até hoje não consigo lembrar o nome de todos os meus irmãos e irmãs.
Quando eu era pequena, nos mudamos muitas vezes, mas o último lugar em que morei com minha família foi o nosso apartamento no primeiro andar de um prédio no centro da cidade. Era minúsculo: apenas dois cômodos que dividíamos com outras duas famílias. Não havia espaço para que todos ficassem ali dentro durante o dia. À noite, nossa família ficava em um quarto, enquanto as outras duas dividiam o segundo cômodo. Como não tínhamos dinheiro suficiente para comprar camas, dormíamos sobre as cobertas no chão. Havia um banheiro para todo mundo – incluindo as pessoas que viviam nos outros três apartamentos do prédio.