Quando Brinco Com A Minha Gata, Como Sei Que Ela Está Brincado Comigo?

Em alguma época por volta do final do século XVI, Michel Eyquem, Seigneur de Montaigne, alcançou o teto de sua biblioteca e raspou uma inscrição que já colocara lá havia anos.

A biblioteca ficava no terceiro andar de uma torre cilíndrica localizada num dos cantos da mansão de Montaigne, em Périgord. De suas janelas, ele podia ver o jardim, o pátio, os vinhedos e o interior da maior parte dos cômodos de sua casa, que estava localizada no alto de um morro, poucos quilômetros ao norte do rio Dordogne e cerca de cinquenta a leste de Bordeaux.
Bem próximo a Montaigne estavam seus livros, uns mil, arrumados em cinco prateleiras. Ele os folheava “sem ordem, sem planos”, levantando-se da cadeira para andar pelo cômodo, 16 passos de diâmetro, resultando numa caminhada circular de cerca de cinquenta passos em sua circunferência. Sobre sua cabeça, citações clássicas e bíblicas rodeavam os caibros e vigas do teto, como vinhas enroladas nos galhos de uma árvore.
A inscrição que Montaigne apagou era um verso do poeta romano Lucrécio: Nec nova vivendo procuditur ulla voluptas — Não há nenhum prazer novo a ser ganho por se viver mais longamente. Era um sentimento que ele antes apreciava. Como a maioria dos pensadores de seu tempo, Montaigne seguia uma filosofia cristã e estoica, na qual a vida era vista como preparação para a que viria depois da morte, e a tarefa da filosofia era avivar as pessoas contra as vicissitudes da fortuna. E da má fortuna que Montaigne já havia experimentado. Sua primeira filha falecera com apenas dois meses (a primeira de cinco que morreram na primeira infância). Seu irmão mais novo tinha sido morto de modo absurdo, trágico, golpeado por uma bola de tênis. Seu melhor amigo, Etienne de La Boétie, deixou o mundo em razão de uma peste aos trinta e poucos anos. E seu pai, a quem ele adorava, morrera recentemente depois de uma agonia prolongada causada por uma pedra nos rins. Além disso, uma guerra religiosa violenta se alastrava pelo país, ateando fogo à região de Montaigne, contrapondo católicos a protestantes, pais a filhos, massacres a assassinatos.

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Bem próximo a Montaigne estavam seus livros, uns mil, arrumados em cinco prateleiras. Ele os folheava “sem ordem, sem planos”, levantando-se da cadeira para andar pelo cômodo, 16 passos de diâmetro, resultando numa caminhada circular de cerca de cinquenta passos em sua circunferência. Sobre sua cabeça, citações clássicas e bíblicas rodeavam os caibros e vigas do teto, como vinhas enroladas nos galhos de uma árvore.
A inscrição que Montaigne apagou era um verso do poeta romano Lucrécio: Nec nova vivendo procuditur ulla voluptas — Não há nenhum prazer novo a ser ganho por se viver mais longamente. Era um sentimento que ele antes apreciava. Como a maioria dos pensadores de seu tempo, Montaigne seguia uma filosofia cristã e estoica, na qual a vida era vista como preparação para a que viria depois da morte, e a tarefa da filosofia era avivar as pessoas contra as vicissitudes da fortuna. E da má fortuna que Montaigne já havia experimentado. Sua primeira filha falecera com apenas dois meses (a primeira de cinco que morreram na primeira infância). Seu irmão mais novo tinha sido morto de modo absurdo, trágico, golpeado por uma bola de tênis. Seu melhor amigo, Etienne de La Boétie, deixou o mundo em razão de uma peste aos trinta e poucos anos. E seu pai, a quem ele adorava, morrera recentemente depois de uma agonia prolongada causada por uma pedra nos rins. Além disso, uma guerra religiosa violenta se alastrava pelo país, ateando fogo à região de Montaigne, contrapondo católicos a protestantes, pais a filhos, massacres a assassinatos.

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