A esfera pública ressurgiu no quadro de reflexão da modernidade. Manancial da opinião pública, pilar da legitimidade política, a ideia de publicidade atravessou todo o pensamento político e sociológico. Segundo uma certa perspectiva disfórica, a sua dimensão política entra, na contemporaneidade, em declínio, o edifício conceptual crítico em que se arvorava desmorona-se, cede perante a emergência de novos fenómenos desestruturantes. As sociedades estandardizadas, de sociabilidade predominantemente de massa, vêm colher a carga crítica ao sujeito, retiram-lhe a sua volição, tornam-no abúlico, susceptível ao inculcamento de ideias e ao fabrico do seu próprio consentimento. Ao mesmo tempo, emerge toda uma cultura de consumo como possibilidade de escoamento dos processos de administração científica da produção que criam uma prolixidade de objectos aos quais a vida societal se vai, progressivamente, adaptando. A indústria da cultura, no seguimento destas modificações societais, vem contribuir para o aniquilamento de uma esfera pública crítica e de um sujeito activo. Ela condiciona-o, aliena-o, torna-o regressivo numa cultura frívola, árida, e reificada como consequência da sua mercantilização. O económico imiscui-se no cultural, a cultura passa a ser vendida e a sua condição de acesso é a aquisição. Deste modo, a cultura pública tende a privatizar-se, deixa de ser universalmente acessível, reparte-se entre aqueles que a produzem e aqueles que a adquirem, deixa de ser um bem colectivo e polifónico resultado da participação activa dos indivíduos, priva o indivíduo à educação livre do espírito, impede-o de determinar-se, de saber, de conhecer, de formarse.
A cultura, sob o manto da universalidade, torna-se particular e eclética.
A prima questão que se coloca nos nossos dias é: que lugar para a esfera pública? Que função estrutural, se é que ainda a possui, é possível assumir nas sociedades hodiernas? E por outro lado, poder-se-á contemplar uma es-fera pública em sociedades caracterizadas por uma indelével inclinação ao consumo? Será este um factor de atrofiamento da publicidade? Isto é, será o consumo uma actividade privada? Ou o indivíduo publicita-se no momento em que inicia um acto de compra?
Publicidade E Consumação Nas Sociedades Contemporâneas
- Comunicação, Economia
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