O Olho Do Tsar Vermelho

Com olhos turvados pelo sangue, o tsar viu o homem recarregar a arma. Cartuchos vazios, deixando um rastro sinuoso de fumaça, caíam do cilindro do revólver. Com um tinido metálico, aterrissaram no chão onde ele estava caído. O tsar respirou fundo, sentindo o fremir das bolhas que saíam de seus pulmões perfurados.


O assassino ajoelhou-se ao seu lado.
— Está vendo?
O homem segurou o rosto do tsar com as mãos e virou sua cabeça de um lado para outro.
— Está vendo o que causou a si mesmo?
O tsar nada viu, cego pelo véu que toldava sua visão, mas sabia que, espalhada no chão em volta, estava sua família. A mulher. Os filhos.
— Vá em frente — disse ao homem. — Acabe logo comigo.
O tsar sentiu uma mão suja com seu próprio sangue dando-lhe tapinhas ligeiros no rosto.
— Você já está acabado — disse o assassino. Então ouviu os cliques suaves dos novos cartuchos sendo carregados no cilindro.
A seguir, o tsar ouviu novas explosões, ensurdecedoras, no espaço exíguo da sala.
— Minha família — tentou gritar, mas tudo que conseguiu foi tossir e sentir ânsia de vômito. Nada podia fazer para ajudá-los. Não podia sequer erguer um braço para se defender.
Agora, o tsar estava sendo arrastado pelo chão.
O assassino grunhiu enquanto puxava o corpo escada acima, praguejando ao ver que os calcanhares da bota do tsar enganchavam em cada degrau.
Estava escuro lá fora.
O tsar sentiu a chuva no rosto. Logo depois, ouviu o som de corpos sendo jogados ao seu lado. As cabeças sem vida rachavam ao bater no chão de pedra.
Deram a partida em um motor. Um veículo. Um guincho de freios e então a pancada de uma traseira de caminhão se abrindo. Um após outro, os corpos foram levados até a carroceria. Logo chegou a vez do próprio tsar ser arremessado na pilha de corpos. A porta da carroceria foi baixada.
Quando o caminhão começou a andar, a dor que o tsar sentia no peito piorou. Cada solavanco na estrada esburacada transformava-se num novo ferimento, sua agonia queimando como um raio na escuridão que espiralava espessa à sua volta.
De repente, a dor começou a ceder. A escuridão parecia derramar-se como um líquido sobre seus olhos. Ela anulou todos os medos, ambições, memórias, até que nada restasse além de um vazio flutuante, do qual ele nada sabia...

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